Extremo Oriente







CHINA








No final de dezembro de 2005, partimos em direção à China, o Império do Meio. Um dos objetos de desejo de todo viajante independente que quer conhecer BEM o nosso planeta Terra! Compramos o guia “Lonely Planet” (a “bíblia” dos mochileiros) da China na Livraria Cultura e nos preparamos para aquela que seria uma das viagens mais bonitas que fizemos, até porque a China é um  planeta a parte, e isto não é um mero chavão! Desembarcamos em Pequim (ou Beijing, como se diz na maior parte do mundo) que está localizada perto do litoral norte da China e estava sendo preparada para as Olimpíadas de 2008. Uma das atrações mais famosas da China são as Muralhas da China (uma das 7 maravilhas do mundo). Parte destas muralhas está localizada a algumas dezenas de quilômetros ao norte de Pequim e logo no primeiro dia fomos para lá.




No caminho de volta desta excursão paramos em um local que vendia artesanato feito com jade. A jade é uma pedra verde que sempre foi muito usada ao longo da história para fazer esculturas e objetos de decoração que ficam muito bonitos quando bem esculpidos. O coração de Pequim é a praça Tiananmen (a “praça da paz celestial”) onde aconteceram episódios trágicos de enfrentamentos entre estudantes e militares no final dos anos 80 nos quais muitos dos que manifestavam pedindo democracia morreram. Ela é uma praça imensa bem no centro da cidade. De um lado da praça está o Mausoléu com o corpo embalsamado de Mao Zedung (antigamente se escrevia Mao Tsé Tung). Milhares de chineses (sobretudo vindos do interior do país) todos os dias vem visitar o Mausoléu, trazendo flores que são colocadas perto de onde está o corpo de Mao (e que se acumulam lá dentro aos milhares e são retiradas todas as noites). Um soldado sempre está de pé em frente ao mausoléu. Na mesma praça Tiananmen está também o Grande Salão do Povo, onde fica o parlamento da China: por dentro ele é magnífico



Um pouquinho de história. A China é o país/cultura mais antigo continuamente existente na face da Terra (o Egito de hoje, por exemplo, não tem muita relação direta com o Egito faraônico). É uma cultura que existe há cerca de 5 milênios! Existiram várias dinastias e o império chinês (junto com o seu imperador) durou até 1911, quando foi derrubado. Para quem quer conhecer melhor este último período, a dica é o belíssimo filme “O último imperador”. Durante a 2ª guerra mundial o exército japonês ocupou boa parte da China, cometendo muitas atrocidades, como por exemplo, no denominado “massacre de Nanjing”. O país passou por muitos períodos de fome ao longo da sua história e por isso, talvez, é que eles aprenderam a comer de tudo: vimos pelas ruas da cidade, barracas vendendo de tudo para comer, como por exemplo, espetinhos de cobras e espetinhos de escorpião (pelo que parecia) para quem quisesse se deliciar com estas iguarias. Alguém que está lendo gostaria de encarar?





Após terminada a segunda guerra mundial, em 1949, Mao Zedung, após a sua “Longa Marcha” (só suplantada em extensão pela marcha executada pelo brasileiro Luis Carlos Prestes na Coluna Prestes), chegou ao poder com a Revolução Comunista Chinesa; o governo anterior mudou-se para a ilha de Taiwan (Formosa) de onde até hoje governa aquela que é considerada pelo governo chinês de província rebelde. Mao cometeu acertos (logo no seu início fez uma importante reforma agrária e começou o processo de industrialização do país) e erros no período em que liderou o país (alguns destes erros tiveram conseqüências trágicas para o povo chinês como foi o caso do “Grande salto para a frente” e da “revolução cultural”). De qualquer modo, após a sua morte, no final dos anos 70 o país realizou reformas e começou a abrir sua economia em busca de investimentos estrangeiros de modo que a China cresce desde então a taxas próximas de 10% ao ano, um verdadeiro feito em termos econômicos! A China é hoje uma mistura de comunismo e capitalismo que vem dando certo economicamente, segundo a máxima confuciana sempre ressaltada por Deng Xiaoping (que foi quem liderou o país para a abertura econômica a partir do final dos anos 70): “Não importa a cor do gato, desde que ele pegue o rato”! De qualquer modo, é devido à importância que Mao teve para a China, que o seu Mausoléu é até hoje visitado por milhões de chineses, sobretudo camponeses (que antes da revolução viviam quase que em estado de servidão na China e, por causa disto, sempre foram gratos pela reforma agrária que foi realizada). A China é uma ditadura comunista, mas liberdade para os negócios e nós, como turistas, pudemos ir aonde quisemos.

Do outro lado da praça Tiananmen está o Grande Salão do Povo onde se reúnem os representantes do povo chinês (uma espécie de Parlamento que se reúne só em certos períodos). E finalmente na frente da praça Tiananmen está a entrada da monumental Cidade Proibida (com a sempre presente foto do Mao no alto do seu portão de entrada) que é um imenso parque+museu no centro de Pequim que precisa no mínimo de um dia todo para ser bem explorado. A cidade proibida era a residência do imperador da China até 1911 e lá viviam a sua esposa e as centenas de “concubinas” (as “outras”). Os únicos homens que podiam entrar na cidade proibida (além do próprio imperador, é claro) eram os eunucos (homens castrados). Mas isto só até 1911. Nós, nesta viagem, entramos lá: ainda bem que estamos no século XXI, não é mesmo!



São tantas e tão belas as construções, prédios e templos dentro da Cidade Proibida que é impossível descrever só uma parte. Fomos até o Palácio de Verão (em uma outra região de Pequim) que no frio do inverno em que estávamos visitando a China tinha o seu lago congelado de modo que dava até para andar sobre a capa de gelo que existia nele.


Duas das “figuras” mais presentes em formas de estátuas não podem ser confundidas, como eu sem querer fiz e fui corrigido por uma criancinha chinesa. Uma é o dragão chinês, esta criatura mítica que anima as festas do ano novo chinês pelo mundo afora (como, por exemplo, no belíssimo templo Zu Lai, na cidade de Cotia, perto da rodovia Raposo Tavares, na grande São Paulo, uma dica para os paulistanos)!


A outra figura que sempre aparece em esculturas é o leão, que para mim, no início, era bem parecido com o dragão, mas que, observando em detalhes, não é!


Fomos também conhecer o Observatório Astronômico de Pequim. Os chineses sempre foram bons astrônomos, de acordo com a história da ciência. E foram grandes inventores, que segundo eles reclamam (ironicamente), foram pirateadas para o ocidente sem pagar os direitos autorais (como no caso da bússola, por exemplo). O livro “O homem que amava a China” (de Simon Winchester) conta um pouco da história da ciência na China e da vida do Needham, um cientista inglês que foi o maior estudioso ocidental de toda a contribuição chinesa para a construção de conhecimento científico.





Entre os objetos bem interessantes deste observatório estavam vários relógios de sol que, como conferimos (fazia sol neste dia), estavam marcando as horas certinho...




Pegamos então o trem de Pequim para Shanghai que fica no litoral central do país, mais de mil quilômetros ao sul de Pequim. Shanghai nos deu a impressão de ser a cidade mais moderna do mundo, uma espécie de cidade da família dos Jetsons (lembram-se do desenho animado dos Jetsons?), sobretudo por causa dos seus prédios modernosos. Dentre todos os prédios destaca-se a famosa Torre da Pérola Oriental (com duas imensas esferas no meio dela). Perto dela está o Prédio Jinmao de arquitetura inovadora e que era o 4º mais alto do mundo na época.




Se Pequim é a capital política da China, Shanghai é a sua capital econômica e financeira: é lá que está uma grande Bolsa de Valores e é para lá que vai o dinheiro. Fomos ao Carrefour de Shanghai comprar comida e lá tinha de tudo para vender, inclusive um aquário com cobras (vivas) e outro aquário com sapos (vivos), para quem quisesse comprar e comer estas iguarias fresquinhas. Conhecemos o Museu de Ciência e Tecnologia de Shanghai que é bem interativo e moderno, mas que ressalta toda a história do desenvolvimento da ciência na China desde a antiguidade. Na sua entrada há um imenso globo carregado por grandes dragões de ferro, numa escultura que impressiona pelo vigor.





Em Shanghai passamos a noite de ano novo observando as suas ruas abarrotadas de letreiros neon e com iluminação colorida para todos os lados. Fomos ver os fogos do réveillon perto do bund, a região da cidade que está nas margens do rio Huangpu: foi uma bela entrada para o ano de 2006, vocês não acham? Passeamos muito por diversos museus de Shanghai e fomos também de trem conhecer algumas das cidades mais próximas, como Nanjing (Nanquim), Suzhou e Hangzhou. Desde que havíamos chegado na China havia sobre todas as cidades uma névoa (neblina) de inverno que parecia cobrir o país inteiro! Em Nanjing passeamos por um parque importante que tinha muitas esculturas enormes com elefantes e sacerdotes ladeando seus caminhos.





Pegamos então em Shanghai um trem-bala (o maglev = magnetic levitation = levitação magnética) para o seu aeroporto internacional. No vagão do trem tinha um velocímetro que marcou incríveis 431 km/h, é mole!





No aeroporto pegamos um avião de uma companhia chinesa para a cidade de Lhasa no Tibete: a aeromoça estava vestida de forma super-elegante com os trajes folclóricos da região (um vestido vermelho e um cinto dourado).





Era inverno e no Tibete fazia muito frio. O Palácio Potala no centro de Lhasa, bem no alto de uma montanha, é daquelas construções que ficam marcadas para sempre em nossa memória. De cor branca e marrom ele é um local considerado sagrado pelas pessoas mais religiosas que vivem no Tibete.




O idioma mais falado na China é o mandarim e o país tem maioria religiosa budista (e uma minoria muçulmana importante no oeste do país), mas é lá no Tibete que o budismo é mais forte. Mas como pudemos perceber, infelizmente também há um fanatismo budista, uma espécie de fundamentalismo budista na região, bem diferente do budismo de classe média que existe no Brasil. Era uma religiosidade tão intensa que observamos lá (com orações, penitências, movimentos repetitivos, pessoas deitadas em tapetes no meio do frio quase que em êxtase, peregrinos aos milhares dando voltas e mais voltas ao redor dos templos e do palácio Potala, circunavegando-os sempre em uma mesma direção, pessoas muito pobres entregando seu dinheiro em templos, jogando moedas e fazendo pedidos) e um clima tão excessivo de entrega e de fé que até chegou a assustar, mesmo com a gente vindo de um país bem religioso como o Brasil e já tendo visitado países muçulmanos também bastante religiosos.




Depois de conhecer Lhasa, pegamos um avião e fomos para a cidade de Cheng Du bem no meio do país. Lá fomos à praça central com a estátua do Mao e vimos várias pessoas praticando o Tai Chi Chuan.





Passeamos por ruas com lanternas vermelhas e fomos conhecer casas em que as mulheres trabalhavam a seda para produzir tecidos, um conhecimento chinês que é milenar.



Uma religião/filosofia importante na China é o taoísmo com seu tradicional símbolo redondo branco e preto enfatizando o pensamento dialético de como os opostos se interpenetram. Em Cheng Du fomos conhecer um templo taoísta: estávamos curiosos para conhecê-lo, pois já tínhamos ido a vários templos budistas. 





Na frente de uma escola (que parecia ser uma escola técnica), perto de onde os alunos deixam as suas bicicletas, vimos escrito na sua entrada em inglês os seus quatro lemas: Seja prático – Discuta os princípios – Enfatize a civilidade – Faça o progresso.





Dali pegamos um pedicab, um taxizinho puxado por bicicleta, e fomos conhecer um senhor que foi companheiro do “camarada” Mao na sua Longa Marcha pelo interior do país lutando contra as tropas do governo que existia naquela época; este senhor organizou um pequeno museu com relíquias e lembranças das suas lutas dos anos 40, 50 e 60. Ele e sua esposa foram bem simpáticos conosco.



 Uma personalidade importante da história da China foi Confúcio que viveu lá mais ou menos na mesma época em que Sócrates ensinava em Atenas, ou seja, há cerca de dois milênios e meio. Confúcio teve um papel fundamental na estruturação da educação das crianças e jovens na China e é reverenciado até hoje. O confucionismo é uma espécie de corrente filosófica importante na China. As estátuas dele aparecem em muitos locais, sobretudo naqueles relacionados à educação. Por falar em educação, a Divina resolveu fazer um curso de culinária chinesa ao qual ela se dedicou bastante (ainda bem, huuuummmmm...).





Chengdu está na província de Sichuan que é conhecida pelas suas exibições de acrobacias (do tipo dos circos chineses) com os pés e com as mãos, e também pela sua ópera e pelo teatro de máscaras que fomos conhecer numa noite.





Nas redondezas de Chegdu fomos a uma reserva que tem vários ursos pandas, criaturas interessantíssimas.





A Divina pode até alimentar um “red panda” ou panda vermelho, após o pagamento de uma módica quantia, é claro (tudo pelo bem estar dos pandas!).






Fomos para Leshan para conhecer o maior Buda do mundo (uma estátua com 71 metros de altura): só a sua cabeça já era impressionante!



Em Chongqing (uma cidade gigantesca no interior da China), pegamos um cruzeiro que desceria o rio Yangtzé (também conhecido como rio Chang Jiang), o maior rio da China, e atravessaria a Usina Hidroelétrica de Três Gargantas que estava sendo construída. Quando ela ficar pronta em alguns anos será a maior usina hidroelétrica do mundo em produção de eletricidade, passando a nossa usina de Itaipu que até agora era a maior do mundo. Com a elevação do nível das águas para formar o lago que existirá “antes” da usina, muitas cidades estão sendo desocupadas, pois serão alagadas (como aconteceu com Sobradinho no Rio São Francisco com a usina de Sobradinho, mas só que numa escala muito maior).  



Fomos após o cruzeiro até a cidade de Guillin, belíssima com a iluminação especial que existia à noite: havia duas pagodas que se destacavam muito e que, pelo contraste, ficavam muito bonitas de noite com a iluminação artificial. Uma pagoda é um prédio de vários andares que vai se afinando um pouco até o topo e que incorpora muitos traços da arquitetura chinesa.



Nas redondezas de Guillin há uma série de montanhas que se destacam e são conhecidas pela sua beleza, pois, em alguns casos, é como se “brotassem” verticalmente do solo. Para quem conhece, elas são mais ou menos como as famosas montanhas (grandes pedras) que brotam do mar, na baia de Halong no Vietnã.




Perto de Guillin fomos também conhecer a Caverna da Flauta de Junco que estava toda iluminada com luzes de cores psicodélicas no seu interior!



Partimos então no rumo do litoral sul da China, e chegamos à cidade de Guang Zhou ou Cantão como é conhecida no Brasil (de lá que vieram muitos dos chineses que emigraram para o Brasil). O seu centro comercial está se modernizando rapidamente com a construção de prédios imensos: lá está um dos dez prédios mais altos do mundo (ocupa a 6ª posição neste ranking) que é o Citic Plaza. E é nesta cidade que muitos norte-americanos adotam crianças chinesas para levar para os EUA como seus filhos: crianças chinesas que são produtos de exportação! É mole!

Vimos um belo balé exibido em uma praça da ilha de Shamian no rio que corta a cidade e visitamos templos, pagodas, parques, o memorial aos mártires, um imenso dragão feito só de pratos brancos que estava em uma praça e a famosa escultura dos cinco bodes.





De lá partimos para conhecer as duas últimas cidades: Macau e Hong Kong que foram devolvidas no final dos anos 90 para a China por Portugal e pela Inglaterra, respectivamente. Na Ásia os portugueses estiveram também presentes em Goa (na Índia) e no Timor Leste, e de modo mais tímido, em Nagasaki (no Japão). Em Macau, a colonização portuguesa deixou traços visíveis na arquitetura de alguns prédios da cidade e nos nomes dos logradouros. Uma fachada da frente de uma igreja católica feita pelos portugueses lembrava até a frente de algumas das igrejas do Brasil! O Museu de Macau tinha até o seu nome escrito no alto em bom português, mas ninguém falava nada do nosso idioma lá! Pelo visto este museu foi um antigo forte: há ainda canhões na sua parte de fora apontados para proteger a cidade de invasores





Mas menos de uma década após Macau deixar de ser controlada pelos portugueses, não havia traços da influência portuguesa nos habitantes da cidade (que está virando uma espécie de Las Vegas da China, pela grande quantidade de Cassinos). Tentamos muitas vezes nas ruas conversar com alguém em português, mas ninguém conseguiu falar (ou entender) uma palavra sequer. Que frustração... Conclusão: a presença portuguesa por lá teve um caráter totalmente diferente do que ocorreu aqui no Brasil!

Ao lado de Macau fica a cidade de Hong Kong que foi devolvida pelos ingleses aos chineses no final dos anos 90. É uma bela e moderna cidade, sobretudo quando vista (seu “skyline”) de longe pela baia na sua frente à noite.




A história do domínio inglês sobre Hong Kong é triste. No meio do século XIX o poder militar chinês derrotou os chineses e obrigou a China a “abrir” os seus portos para que a Inglaterra tivesse a “liberdade” de vender o ópio (uma droga fortíssima que era produzia em outras colônias asiáticas dos ingleses) e comprar chá. Com a derrota chinesa, milhões de chineses foram viciados em nome da “liberdade de mercado” (quem quiser conhecer melhor esta história deve ler o belíssimo livro “A história do mundo em 6 copos”: uma das 6 bebidas que estão no eixo da trama contada pelo livro é justamente o chá, bebida vital para a China, sobretudo no caso do chá verde). Liberdade para quem, cara pálida! E os chineses ainda tiveram que entregar Hong Kong para o controle da Inglaterra por mais de um século. Mesmo com a sua devolução, a China resolveu por enquanto, e sabiamente, manter Hong Kong “independente” do resto do país, pois esta cidade é na verdade uma galinha dos ovos de ouro, ou seja, é a ponte com o ocidente que funciona como um atrator de investimentos e de capital, sobretudo pela sua Bolsa de Valores. Assim, por exemplo, a China tem como moeda o Iuan, mas na cidade de Hong Kong a moeda é o dólar de Hong Kong (HK$). Para sair da China e entrar em Hong Kong precisamos passar por uma fronteira com alfândega e vistoria de passaporte! É o que o governo chinês chama de “um país, dois sistemas”.





Os carros de Hong Kong têm o volante do lado “errado” para nós brasileiros, devido à colonização inglesa. No resto da China os carros têm o volante do mesmo lado que no Brasil (do lado esquerdo). Em Hong Kong os ingleses deixaram uma boa infra-estrutura: uma biblioteca imensa e bem estruturada, os tradicionais ônibus de dois andares e um moderno e interativo museu de ciência. Há também o Parque da Disney ao qual nós decidimos não ir!

No aeroporto de Hong Kong pegamos o nosso avião de volta para o Brasil: as nossas malas resolveram ficar viajando um pouco mais e para nosso desespero não chegaram nas esteiras quando desembarcamos em Cumbica. Para nosso alívio elas foram enviadas para a nossa casa no dia seguinte quando chegou um novo vôo vindo de Hong Kong. Sorte que a chave de casa estava com a gente e não nas malas (uma lição que todos que viajam devem aprender).

Nesta viagem pela China deu para sentir uma nação pulsante e cheia de energia, um povo que está fazendo e acontecendo. Mesmo com todos os problemas que eles ainda têm, vamos seguramente ouvir muito as pessoas falarem dos chineses nos próximos anos. É bom nos prepararmos!




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CORÉIA DO SUL

Pessoal, estamos nesta viagem conhecendo a Coréia do Sul e o Japão, o chamado Extremo Oriente. Chegamos no aeroporto internacional Incheon da Coréia do Sul, logo após o dia de natal de 2009. Fazia um frio imenso: estava nevando muito e imediatamente pegamos uma condução para o centro de Seul, capital da Coréia do Sul. Como não reservamos hotel, tive que ficar andando no meio da neve por umas duas horas (enquanto a Divina me esperava em um local abrigado) para encontrar um hotelzinho com um quarto disponível; moral da história: entre o natal e o fim do ano reserve o hotel em que ficará hospedado (o que é óbvio... mas errar é humano).


Um pouquinho de história. O povo e a cultura coreanos são antiquiquíssimos, com milhares de anos! O budismo é uma das características que unifica este povo, cercado de duas grandes potências: a China e o Japão.

Durante a segunda guerra mundial a península coreana e a China ficaram ocupadas pelo Japão que foi responsável por grandes atrocidades nestes países, comparáveis àquelas feitas pelos nazistas na Europa. Quando acabou a segunda guerra em 1945, com o Japão derrotado, imediatamente iniciou-se a Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética. Em 1949, na sequência, ocorreu a revolução chinesa com o Partido Comunista Chinês liderado por Mao Tsé Tung chegando ao poder no país mais populoso do mundo. Está aí parte da origem da Guerra da Coréia do início dos anos 1950, com os Estados Unidos intervindo abertamente em defesa da Coréia do Sul, capitalista (onde até hoje tem tropas militares), contra a Coréia do Norte, comunista e apoiada pela União Soviética e pela China. A Guerra da Coréia não acabou oficialmente até hoje! Foi decretado um cessar fogo em 1953 que vigora até a atualidade entre as duas Coréias e visitar a região da DMZ (Zona DesMilitarizada), uma faixa de 4 km de largura e 248 km de extensão entre os dois países, é como voltar no tempo algumas décadas. Afinal de contas a Coréia do Norte é o país mais fechado do mundo e o único que ainda segue aquele modelo antigo e extremado de “comunismo linha dura”! 



De vez em quando há uma troca de tiros ocorrendo por lá, portanto é um equilíbrio bem instável, ainda mais agora com a Coréia do Norte tendo mísseis nucleares. Viemos é claro pelo lado da Coréia do Sul e do outro lado da fronteira dá para ver a bandeira bem alta da Coréia do Norte. É possível também visitar túneis que foram escavados por norte-coreanos, e encontrados por sul-coreanos, que seriam utilizados hipoteticamente para uma invasão!



Há também uma estação de trem prontinha para funcionar perto da DMZ, quando (e se) os dois países forem unificados um dia no futuro e que poderia ligar a Coréia do Sul com o resto da Ásia e com a Europa: esta estação é um ponto turístico, pois é claro que não funciona, mas tem bancos para sentar, guichês de” vendas” e inclusive um imenso mapa da Eurásia com uma linha vermelha representando uma linha de trem ligando Seul até Lisboa em Portugal!!!



A Coréia do Sul vem se desenvolvendo bastante durante as últimas décadas (é um dos chamados tigres asiáticos), com muito investimento em educação. Seul, a sua capital, é uma cidade belíssima, mesmo considerando o frio da época em que a visitamos, e tem um sistema de metrô extenso e muito eficiente. Em Seul, o rio que passa pelo seu centro (equivalente ao nosso rio Tietê) foi limpo e recuperado, e agora tem até cachoeira e caminhos tranquilos para passear ao seu lado. Quem sabe um dia o nosso Tietê...

Há uma série de palácios da época imperial (como na China), e um dos mais bonitos é o palácio Gyeongbokgung. Na sua frente há uma famosa cerimônia de troca da guarda muito legal de se ver. A monarquia já foi derrubada faz muito tempo, mas as suas tradições persistem.

Agora, divertido mesmo foi utilizar as privadas dos banheiros, todas eletrônicas e cheias de botões para ligar, desligar, jogar aguinha quente no bumbum, jogar jatinho de ar, e diversas outras opções, que eu com o meu inexistente domínio do idioma coreano não consegui entender para o que servem!



No dia 31 de dezembro de 2009 pegamos um trem bala e fomos para Busan, a segunda maior cidade da Coréia do Sul, de onde partem os ferries (barcos) para o Japão. Lá passamos o réveillon em um quarto no alto do prédio de um hotel da rede Toyoko Inn, uma rede de hotéis populares (mais ou menos como os hotéis Formule 1) na Coréia do Sul e no Japão que usamops muito nesta viagem. Deu para ver todos os fogos de artifício que ocorriam na baía da cidade a partir da imensa janela do nosso quarto! Em Busan há um templo budista importante e bonito, o Templo Blomeosa. No alto de um dos seus prédios, há o símbolo da rosa dos ventos (a suástica, só que girando ao contrário). NÃO se trata de algo nazista. Este símbolo já existia há muitos séculos antes de ser tristemente apropriado pelos nazistas no século XX. Que trágico: um símbolo associado à paz interior que está no âmago da espiritualidade budista representa para todos nós ocidentais (quando virado ao contrário) o massacre de milhões de pessoas pela ideologia nazista! 








JAPÃO

Começou o ano de 2010 e, após viajarmos pela Coréia do Sul, fomos conhecer o Japão. Atravessamos de barco da cidade de Busan que fica na Coréia do Sul para a cidade de Fukuoka na ilha de Kyushi, a ilha mais ao sul das 4 grandes ilhas que compõem o Japão (as outras 3 ilhas são Honshu, Shikoku e Hokkaido). Não muito longe dali, está a cidade de Nagasaki, uma das cidades que tínhamos a obrigação de conhecer. Nagasaki foi a segunda cidade a ser bombardeada por uma bomba nuclear pelos EUA, em 9 de agosto de 1945, 3 dias após a cidade de Hiroshima ter sido bombardeada, uma tragédia em que morreram dezenas de milhares de japoneses. Uma crueldade elevada ao quadrado, pois após Hiroshima já estava próxima a assinatura pelo imperador da rendição do Japão. Lá em Nagasaki conhecemos o Museu da Bomba Atômica.

Este Museu está situado no Parque do Hipocentro da Bomba Atômica, um parque hoje tranqüilo e cheio de esculturas que nos lembram dos horrores do evento que lá ocorreram e da necessidade de continuar lutando pela paz e pelo desarmamento no mundo.


Pergunta provocativa: as duas bombas atômicas de Hiroshima e de Nagasaki foram o último lance da segunda guerra mundial ou foram o primeiro lance da guerra fria (para fazerem o Japão se render para os EUA e não para a União Soviética, tornando este país um aliado fundamental para os EUA na região)? Esta é uma importante discussão histórica que tem consequências até os dias de hoje!
Por falar em história, é interessante lembrar que nos anos 1500 os nossos amigos portugueses estiveram em Nagasaki tentando cristianizar a população de lá, o que não deu muito certo: até hoje a grande maioria da população japonesa é seguidora de uma mistura (sincretismo) de xintoísmo e budismo. Numa cidadezinha perto de Fukuoka (Dazaifu) visitamos um templo com uma fila imensa de alunos adolescentes na sua frente para entrar no altar, fazer preces e realizar rituais para terem sucesso no “vestibular” deles. Como? Jogando moedas, pendurando papelzinhos com pedidos e plaquinhas com seus nomes, e passando a mão na cabeça de um touro de bronze!



Em Dazaifu conhecemos também o Museu Nacional de Kyushu, no qual na sua frente martelamos uma “Massinha” para fazer o tradicional doce de feijão deles.


Era um fim de semana em Dazaifu e havia muitos músicos tocando nas ruas, vestidos com suas tradicionais vestimentas e tentando ganhar um pouco de dinheiro!


Fomos então para a ilha principal do Japão, a ilha de Honshu. Sempre de trem bala (eficiente, rápido e seguro, tomara que um dia exista um no Brasil) nos transportamos para a cidade de Hiroshima, onde nos hospedamos por alguns dias. 6 de agosto de 1945 foi o dia em que foi lançada a primeira bomba atômica da história sobre uma população civil e indefesa. A Segunda Guerra já tinha terminado na Europa fazia muito tempo, a Alemanha e a Itália já estavam derrotados, Hitler e Mussolini já estavam mortos, e o Japão com certeza não conseguiria se agüentar muito tempo sozinho em guerra naval com os EUA pelo oceano Pacífico e em guerra terrestre com a União Soviética na China. Alguns dias antes do lançamento da bomba de Hiroshima, os soviéticos tinham rendido um exército com cerca de 1 milhão de soldados japoneses na Manchúria, no norte da China. A pergunta óbvia então é: qual foi a finalidade então do lançamento desta bomba que assassinou mais de 100 mil pessoas, civis indefesos (mulheres, crianças, idosos,...)  instantaneamente ou com doenças como o câncer? Derrotar um país como o Japão que evidentemente já estava derrotado? Ou forçar o Japão a se render para os EUA e ser um aliado norte-americano no pós-guerra? Uma opção para o final da guerra poderia ser ter que dividir o Japão com a União Soviética como ocorrera com a Alemanha, algo que obviamente não era do interesse estadunidense! Foi com certeza uma crueldade evidente (mesmo considerando as crueldades que o Japão realizou durante a segunda guerra), mas ficar constatando só a crueldade é muito pouco: o importante também é analisar as razões que levaram a esta crueldade! Com a bomba atômica, toda a região central da cidade de Hiroshima foi destruída completamente, com a exceção de um único prédio que hoje é um símbolo pela paz: o “Domo da Bomba Atômica”.


No parque central onde está este Domo há uma “Chama pela paz” que só será apagada quando a última bomba nuclear do mundo for destruída! Será que um dia ela será apagada? Esperamos que sim e que este dia esteja próximo (antes que a humanidade se auto-destrua)!



Há também em Hiroshima um Museu Memorial da Paz com um relógio marcando há quantos dias tinha sido jogada a última bomba atômica sobre civis (23.527 dias – em Nagasaki) e há quantos dias tinha sido feito o último teste nuclear (224 dias). Uma das bandeiras mais importantes do movimento pacifista é acabar com os testes nucleares no mundo.


Conhecemos também a ilha sagrada de Miyajima que é um Patrimônio Histórico da Humanidade tombado pela Unesco e que não fica muito longe de Hiroshima. Lá há o famoso altar vermelho em forma de Portão que na maré alta parece flutuar acima das águas! É um dos maiores símbolos do Japão.



Também perto de Hiroshima, há a cidadezinha de Iwakuni com a sua famosa ponte de 5 arcos construída em 1673 a pedido de um lorde feudal da época: é uma obra de engenharia brilhante para aquele período histórico.


Osaka é a segunda maior cidade do Japão e sua grande atração é seu aquário, que é imenso e tem até um imenso tubarão baleia que fica nadando bem tranquilamente entre os vários espaços do aquário!


A antiga capital do Japão imperial é a cidade de Kyoto, uma espécie de “Ouro Preto” do Japão, guardadas as devidas proporções! É o maior ponto turístico do Japão, símbolo de todo o legado cultural japonês, por causa da importância histórica de seus templos, de seu Palácio Imperial e de seus jardins. Quando foram lançadas as duas bombas atômicas, Kyoto era uma das opções analisadas pelos comandantes militares norte-americanos, que foi rechaçada pelo fato de um deles ter conhecido Kyoto (e suas belezas) antes da guerra. O destino (e a vida de cada um de nós) parece muitas vezes ser uma simples obra do acaso, não é mesmo! Kyoto é uma cidade importantíssima para conhecer numa viagem ao Japão, até para fazer um contraste entre o Japão da modernidade tecnológica e o Japão imperial com seus costumes antigos!


Kyoto tem uma das melhores universidades do Japão e passeamos uma tarde por ela. Mesmo no frio, o estacionamento de bicicletas da universidade estava cheio: mente sã em corpo são! O fato de a cidade ser plana torna Kyoto uma cidade interessante de conhecer por bicicleta. Entramos em alguns Institutos e Faculdades da Universidade, para conhecer e respirar um pouco da sua atmosfera.


Perto de Kyoto há uma outra localidade histórica muito importante, a cidade de Nara que foi a primeira capital permanente do Japão. Nela está o grande Buda de bronze localizado em um imenso templo de madeira, que segundo o nosso guia da série Lonely Planet (a “bíblia dos mochileiros”) é a maior construção de madeira do mundo! Na entrada do templo há uma imensidão de filhotes de veados (cervos) que ficam tranquilamente por lá sem serem molestados pelos turistas.



Finalmente pegamos o trem bala (denominado shinkansen) para Tóquio onde terminaríamos nossa viagem. Tóquio é a modernidade! Tóquio é o culto à tecnologia! Uma cidade imensa, um grande templo de luz neon! Um extenso, completo e exemplar sistema de metrô! Visitamos no primeiro dia o belíssimo Museu Nacional de Tóquio. O Museu Nacional fica no Parque Ueno, uma região belíssima de Tóquio.


Ali perto, vimos algo curioso: no fim da manhã, havia muitas pessoas (na maioria homens) parecendo razoavelmente pobres e que estavam esperando sentados comportadamente pela comida que era distribuída (creio eu que por algum órgão assistencial) para quem não pode comprar comida. Pensamos que isto não existe em países ricos, mas existe sim e num país riquíssimo como o Japão! 

Fomos também ao templo de Senso-Ji, onde participamos de uma cerimônia diferente com músicos, bailarinos e dragões que comiam dinheiro (não são bobos não). Foi bastante curioso observar todo o desenrolar das cerimônias religiosas e festivas que ocorreram ali!


Um oásis de tranqüilidade no centro agitado de Tóquio é o Jardim do Palácio Imperial que está (o Jardim) aberto à visitação. Já o Palácio, como é a casa do imperador, só pode ser visitado em dois dias do ano: 2 de janeiro e 23 de dezembro. Infelizmente, não era o nosso caso, pois já era final de janeiro, mas só a visita ao lindo Jardim já valeu imensamente!


Uma das estátuas importantes do Japão é a do cachorro Hachiko no bairro de Shibuya que foi imortalizado no cinema no filme “Sempre ao seu lado” com o ator Richard Gere, sobre a amizade entre um professor universitário e um cão. Na verdade a verdadeira história ocorreu com um professor japonês.

Em termos arquitetônicos, um prédio belíssimo tanto interna quanto externamente é o Fórum Internacional de Tóquio que parece um imenso navio.


Também valeu a pensa conhecer o Museu Nacional da Ciência Emergente e da Inovação, que tem como símbolo um imenso globo representando o nosso maravilhoso e diversificado planeta Terra. Sempre é importante conhecer os museus de ciência dos países que visitamos! E este é o melhor e o mais educativo dos museus científicos do Japão!

Há em Tóquio várias atividades curiosas para ver e conhecer: uma réplica da estátua da liberdade, uma réplica da Torre Eiffel, visões da cidade lá de cima de edifícios altíssimos, ginásios com campeonatos da luta “Sumô”, mercados tradicionais de peixes (base da culinária deste país ilha), etc. Algo muito legal mesmo, foi ver em uma exposição, o robozinho AIBO em forma de cachorrinho dançando após o comando verbal para que ele dançasse.