África





TUNÍSIA: VIAJANDO PELA TERRA DE CARTAGO

Desembarcamos no aeroporto de Túnis, capital da Tunísia, vindos de Roma, no dia 26/12/2014 (quem quiser ler sobre a parte inicial desta viagem em Roma, deve acessar a aba da Europa deste blog).
No norte da África já conhecíamos o Egito e o Marrocos de outras viagens. A Líbia e a Argélia estão atualmente impraticáveis para qualquer tipo de turismo, infelizmente, pois devem existir locais belíssimos em ambos os países se tomarmos como referência seus vizinhos. Nos consideramos viajantes independentes, com o objetivo de conhecer diferentes culturas de nações espalhadas pelo mundo afora: quem sabe um dia seja possível conhecer também estes dois países?
A Tunísia é um país que está localizado a pouco menos de trezentos quilômetros da ilha da Sicília, no sul da Itália. O país é de maioria muçulmana e as pessoas falam além do árabe, também o francês, resultado da sua colonização pela França. É um país simpático com cerca de 10 milhões de habitantes e que foi aonde há alguns anos começou a primavera árabe. Na verdade, pelo visto é o único dos países árabes com antigas ditaduras onde ocorreu de fato uma democratização pacífica. Justamente pouco antes da nossa viagem ocorreram eleições presidenciais limpas nas quais o vencedor ao cargo de presidente foi o candidato Essebsi, de 88 anos de idade e pertencente a um partido laico que se opõe a tentativa de tentar misturar os assuntos de estado com regras e doutrinas religiosas. Vejam bem, por tudo que li, não se trata de um candidato que não seja muçulmano, mas sim de alguém que não quer associar as questões religiosas com os assuntos de governo (a tal separação entre igreja e estado, que no Brasil tem já mais de um século).
A moeda usada na Tunísia é o dinar. Um euro vale cerca de 2,25 dinares. O dinar é dividido em milésimos e não em centésimos ou centavos como o real brasileiro ou o dólar norte-americano ou mesmo o euro. Portanto um dinar e meio é o mesmo que um dinar e 500 “millimes” ou milésimos o que é escrito como 1,500. A renda per capita da Tunísia (em poder de paridade do dólar, um artifício que é usado para levar em conta o poder de compra da moeda em cada país específico) é de cerca de dez mil dólares, dois terços da renda per capita brasileira. O custo de vida do país é mais baixo que no Brasil. Os modernos bondes elétricos existentes (os trams) em Tunis custavam cerca de 75 centavos de real, para dar uma ideia.
A primeira coisa que fizemos ao chegar na cidade de Tunis foi passear pela parte moderna da cidade, principalmente pelo boulevard central bem arborizado da Avenida Habib Bourguiba que termina na Torre do Relógio.
           


 
Em um bairro situado ao norte da cidade de Tunis, estão localizadas as ruínas da famosa cidade Cartago, que na antiguidade chegou a desafiar o poderio de Roma, durante as chamadas Guerras Púnicas (os romanos chamavam os cartagineses de púnicos), nos séculos III e II a.C.. Para ir visitar as ruínas de Cartago, pega-se um trem para um bairro residencial a 8 km do centro da cidade, ao lado do belo litoral do Mar Mediterrâneo. Cartago foi fundada pelos fenícios, povos navegadores e mercantis que habitavam originalmente a região do atual Líbano. Dentre outras coisas, devemos à invenção do alfabeto aos fenícios. O mito fundador de Cartago está associado a uma mulher, a famosa rainha Elissa Dido; ele é relatado na obra Eneida,a epopeia que foi escrita por Virgílio narrando a história de Roma. Mais para o interior e sul do país, nas regiões próximas ao grande deserto do Saara, os povos nativos da região são os nômades berberes: até hoje é possível perceber a cultura berbere, pelas suas roupas e tradições, cultura esta que é muito anterior à cultura árabe.
Foram os fenícios que introduziram o cultivo das oliveiras na Tunísia, que até hoje é um dos maiores produtores de azeite de oliva do mundo. Viajando pelo interior do país foi possível perceber como o cultivo da oliveira é importante até hoje.
            No seu momento de expansão máxima, Cartago ocupou o norte da África, o sul da Espanha e as ilhas da Sicília, da Sardenha e da Córsega, no Mar Mediterrâneo. 




           Durante os vários momentos de hostilidades entre Roma e Cartago, durante a segunda guerra púnica, em certo momento ocorreu o famoso episódio no qual o general cartaginês Aníbal (considerado um dos maiores estrategistas militares da história), a partir da península ibérica atravessou todo o sul da atual França e os Alpes, rumando em direção a Roma, com seu famoso exército com elefantes.
Aníbal chegou até as proximidades de Roma, mas acabou não atacando a cidade, pois não tinha o apoio militar e político necessário para isto. Mas mesmo assim há muito debate acerca dos motivos deste não ataque. Foi o momento mais ameaçador da história de Roma; se Cartago tivesse atacado e vencido Roma, talvez nós aqui no Brasil não estaríamos falando português (uma língua neolatina), mas sim algum idioma originário do antigo fenício (este é um exercício um pouco livre da chamada história contrafactual, o famoso “E se ...?”).
Esta proximidade da derrota criou nos romanos uma verdadeira obsessão em derrotar Cartago. Uma das frases mais repetidas no senado romano ficou famosa na época: “Delenda est Cartago” (Cartago precisa ser destruída).
O fato é que no final da terceira e última guerra púnica, em 146 a.C., Roma conseguiu derrotar Cartago, que foi queimada e destruída completamente. Somente cerca de um século após isto é que os romanos reocuparam a região onde a cidade estava localizada e que é estratégica em termos geográficos, pela sua proximidade com a Sicília, numa faixa de mar que praticamente divide o Mediterrâneo em duas partes: uma ocidental até Portugal/Marrocos e outra oriental até Líbano/Israel.
No bairro onde estão as ruínas de Cartago (que não são muitas, diga-se de passagem, pois os romanos fizeram um serviço bem “eficiente” ao destruir completamente a cidade), visitamos o museu de Cartago com objetos que foram encontrados nas escavações.

 
Nele havia também maquetes e ilustrações de como deveria ser a cidade antiga de Cartago.


 
Tem-se uma bela e ampla visão do mar, a partir do monte Byrsa onde está situado o museu de Cartago.


 
Visitamos também o antigo porto púnico em forma circular que ainda existe hoje. Cartago tornou-se hoje um bairro de classe média alta, uma espécie de Jardins de lá (há inclusive muitas embaixadas) e talvez isso se deva ao prestígio local e histórico que é conferido aos feitos da antiga Cartago. Mas há no bairro também as ruínas das Termas (Banhos) de Antonino que foram construídos pelos romanos no século II d.C., do teatro romano (que foi restaurado e sedia atividades artísticas), das vilas romanas e também o L´Acropolium, uma catedral construída pelos franceses no século XIX: o visual que se tem de alguns destes lugares com o mar ao fundo é belíssimo.
E há o polêmico Santuário Púnico de Tophet onde foram encontradas milhares de urnas com restos mortais de bebês. Os romanos acabaram criando uma história acerca do sacrifício de crianças pelos cartagineses para seus deuses, que acabou sendo utilizada como argumento para a destruição da cidade, que teria sido feita em nome do “caráter civilizador das ações romanas”. De acordo com a máxima de Churchill, a história é sempre escrita pelos vencedores! Os EUA invadem o Iraque e destroem toda a infraestrutura do país, a pretexto de “democratizar” esta nação. Espanha e Portugal invadiram a América sob a justificativa de cristianizar os índios. As potências europeias escravizaram africanos sob a justificativa de que na verdade estavam “civilizando-os”! Ou seja, nada de novo no fronte... A realidade factual é que Roma para evitar o “sacrifício de crianças cartagineses” acabou sacrificando toda a cidade de Cartago. Diversos historiadores contemporâneos defendem que os ossos nas urnas deste Santuário de Tophet eram de bebês natimortos ou que morreram de causas naturais, algo que era muito comum na antiguidade e que só foi diminuído com a medicina moderna e os avanços da saúde pública no século XX. A verdade é que toda expansão imperialista necessita de mitos, lendas e mistificações para justificar seus próprios atos de barbárie!
Em Tunis, ficamos hospedados no Hotel Majestic que está próximo do centro da Ville Nouvelle (o “bairro novo”, construído pelos franceses e que se contrapõe ao caráter caótico da Medina) e que tem uma belíssima arquitetura de estilo art nouveau. O preço da diária era quase o mesmo do preço da diária de hotéis considerados de categoria econômica em São Paulo. Na cidade de Tunis visitamos a Catedral Católica de São Vicente de Paula que mistura elementos bizantinos, góticos e mouros. Na frente da catedral está a estátua de Ibn Khaldoun, grande astrônomo, matemático, filósofo e historiador árabe que nasceu em Tunis e viveu no século XIV.


Visitamos também o Museu do Bardo, o maior museu do país, com muitos objetos púnicos e romanos, com destaque para os belos e imensos mosaicos que foram encontrados em ruínas arqueológicas por todo o país. E passeamos pelas ruelas da Medina, a antiga cidade árabe medieval que mais parece um labirinto com todo tipo de comércio e onde está situada a Grande Mesquita Zaytouna.
Depois de alguns dias em Túnis decidimos conhecer o país que não é muito extenso se comparado com o Brasil. Para isto, alugamos um carro Symbol da Renault (com quilometragem ilimitada, seguro contra roubo e acidente e direito a dois motoristas, três características fundamentais para a nossa viagem) e nos dirigimos de Tunis (situada mais ao norte da Tunísia) diretamente para o extremo sul do país, perto da fronteira com a Líbia, na cidade de Tataouine. Foram cerca de 550 km em um único dia! Saímos às 8:00 da manhã e chegamos as 19:00 quando já era noite.
Mas no meio do dia, bem no centro do país, conhecemos o magnífico coliseu (anfiteatro) romano de El Jem que rivaliza com o coliseu de Roma em opulência e grandeza. Os romanos depois da derrota de Cartago transformaram a região numa base estratégica para o controle do norte da África, inclusive fundando diversas cidades, e esta foi uma delas.


Na mesma cidade de El Jem visitamos o seu museu de arqueologia que é belíssimo, sobretudo pelos seus grandes mosaicos super bem preservados.


Algo interessante que percebemos foi que no interior do país, muitos restaurantes de beira de estrada deixam o corpo do cordeiro morto pendurado na frente do estabelecimento (como se fosse um açougue), creio que para que seus clientes escolham a parte que querem comer! Meio bizarro...
Passamos a virada do ano de 2014 para 2015 na cidade de Tataouine mesmo, mas fazia um frio desgramado. Quando era por volta da meia noite tentei sair do quarto (em pequenas cabanas ao ar livre) onde estávamos para ver se no nosso hotel (Sangho Tatouine) estava ocorrendo algum agito, mas voltei rapidamente para o quarto morrendo de frio.
No dia 1 de janeiro fizemos um verdadeiro loop pelas várias cidadezinhas daquela região do sul da Tunísia, com as suas construções típicas e com moradias escavadas na pedra e denominadas de “trogloditas”; cidadezinhas no meio do nada, no meio do deserto, tais como Ksar Haddada, Guermessa, Chenini, Douiret e Ksar Ouled Soltane.


Ksar é o nome local para as construções típicas da região usadas, sobretudo, para armazenar grãos (mas também para moradias) devido às suas características arquitetônicas que permitem que os grãos não se deteriorem. O clima seco (estávamos perto do deserto do Saara) também ajuda nesta tarefa. Nestas construções foram gravadas muitas das cenas de filmes da Saga “Guerra nas Estrelas – Star Wars” (o sétimo filme desta saga, a propósito, deverá estrear no final de 2015 – será uma das estreias mais esperadas do ano, inclusive por nós). Estas construções são típicas dos povos originais da região, os berberes, nômades que precedem a cultura árabe.

 
No caminho entre estas cidadezinhas, pudemos apreciar o visual desértico, exótico e extraordinário da paisagem, como se estivéssemos em um outro planeta.

 
Não é a toa que cenas dos filmes Guerra nas Estrelas foram também gravadas nestes cenários desérticos que lembram um pouco as regiões do oeste norte-americano que são tão icônicas, sobretudo em cenas de cinema.


Para quem quer ter alguma ideia da paisagem e das construções da região, os dois vídeos amadores abaixo dão uma introdução:
De Tataouine fomos até Douz, cidade situada mais a oeste e onde está localizada a denominada “Porta do deserto do Saara”. No caminho passamos pela cidadezinha de Matmata que também tem hotéis construídos em forma de “Ksar” e que foram palco de gravações de filmes da saga Star Wars. Em Douz, quando chegamos no final da tarde, fomos ver o por do sol sobre a duna que fica na frente dos hotéis da zona turística. No dia seguinte fizemos um passeio com um perua quatro por quatro (eles falam “cat cat”), numa expedição para dento do deserto do Saara. A perua nos deixou perto do que é chamado de grande Duna e a subimos a pé: de cima admiramos o deserto se espalhando até onde a vista do horizonte alcançava.

 
Vimos hordas de dromedários no meio da região semidesértica. Os berberes com suas roupas tradicionais (os jallabahs, espécies de togas com capuz que ao serem vestidas deixam o sujeito parecido com um duende) são na maioria das vezes os donos dos dromedários.

 
O nomadismo é algo milenar entre eles e vem de bem antes da ocupação árabe; muitos argumentam que é um estilo de vida que lhes confere maior liberdade. Os dromedários são animais fascinantes que frequentemente são deixados soltos por seus donos nesta área fronteiriça ao deserto, durante o inverno; nesta época, a demanda dos turistas, que querem fazer passeios sobre dromedários, é menor. Quando a alta temporada do turismo volta, cada dono consegue identificar seu camelo pelos seus sinais e marcas.
Em Douz visitamos também o pequeno museu do Saara, um museu folclórico onde aprendemos muito sobre as tradições dos povos berberes e sobre o dromedário, seus companheiros de travessias pelo deserto.
A Tunísia está situada na região do Magrebe (noroeste da África – a palavra em árabe significa “região ocidental onde o sol se põe”, pois está a oeste da Península Arábica) e faz fronteira apenas com dois países, que a propósito, são nações complicadíssimas em termos políticos, a Argélia a oeste e a Líbia a leste.
A Líbia, desde a intervenção dos EUA e da França há alguns anos e da deposição do general Gadafi esta em situação de guerra civil e é uma nação em situação de quase fragmentação. Pior que qualquer ditadura é a guerra civil (na maioria das vezes armada, financiada e incentivada pelas nações ricas) e a ausência de estado. É só ver os dados sociais sobre a situação do Iraque antes de 2001 (durante a ditadura de Sadam Hussein) e a situação atual para notar como todos os índices de qualidade de vida se deterioraram desde então (analfabetismo, saneamento básico, saúde pública, reaparecimento de doenças que já tinham sido erradicadas devido à deterioração das condições de higiene, mortes pela violência). É só observar também a situação da Síria hoje em comparação com a de cinco anos atrás. Não se trata de defender ditadores, mas de perceber que quase sempre guerras de intervenção de países ricos e desenvolvidos em países pobres e em desenvolvimento, sob o pretexto de levar a democracia e derrubar ditaduras, na verdade estão associadas aos interesses econômicos dos países invasores e não aos interesses dos povos dos países invadidos.
Já a Argélia, foi um dos países de terceiro mundo que sofreu mais intensamente, após a segunda guerra mundial, na sua guerra pela independência contra a política colonial da França. Para quem quiser conhecer este período da história, um filme clássico obrigatório é “A batalha de Argel” (1966) que está disponível no youtube no link:
A Argélia já está há muito tempo com problemas de instabilidade política interna, ligados ao fundamentalismo religioso e a atos terroristas. O site do Lonely Planet apresenta agora (janeiro de 2015) uma advertência feita pelo Reino Unido e pela Commonwealth (comunidade de países de língua inglesa) alertando sobre os riscos de fazer turismo em diversas regiões da Argélia. Leia no link a seguir para saber as informações atualizadas a este respeito: https://www.gov.uk/foreign-travel-advice/algeria.
Não é possível hoje fazer um turismo seguro nestes dois países, Líbia e Argélia. Mas pelo que vimos na Tunísia devem existir locais belíssimos nestes dois países (tanto belezas naturais, quanto ruínas de caráter histórico) para serem conhecidos e visitados por turistas. E as coisas mudam. Nos anos 70 ninguém imaginava fazer turismo no Vietnã, enquanto hoje o Vietnã é um dos melhores países para serem visitados no mundo, na nossa opinião e pela nossa experiência.
De Douz fomos para Tozeur, cidade situada próxima à fronteira com a Argélia e também nas bordas do deserto do Saara. Fazia muito frio neste inicio de janeiro (às vezes com temperaturas abaixo de zero), mas no verão no meio do ano o calor é infernal e chega a 50 graus Celsius! No caminho atravessamos um imenso lago de sal (estes lagos salgados são denominados em árabe por “Chott”) de muitas dezenas de quilômetros e que estava seco, pois esta não era a época de chuvas. É o Chott El-Jarid.


O cenário desértico com montanhas de cor alaranjada ao fundo, devido à iluminação do sol, parece o de um outro planeta, novamente. O clima ao redor é de pura desolação. 



De vez em quando, aparecia uma placa na beira da estrada alertando que ali era passagem de dromedários!


Em Tozeur vimos o por do sol sobre pedras com grandes rostos esculpidos, como aquela imensa escultura dos EUA com rostos de ex-presidentes norte-americanos esculpidas (Monte Rushmore).


Fomos também ao divertido Chak Wak Park que mistura exposições cientificas sobre o big bang e a evolução das espécies, com historias bíblicas como a de Adão e Eva e a de Noé. Sintomaticamente, em Douz e em Tozeur a água da torneira de todos os banheiros é salobra. É só o que eles têm! Mais um motivo para procurarmos consumir a água potável de modo sustentável e consciente no Brasil.
Muitos dos tunisianos que conversavam conosco, sistematicamente acabavam nos perguntando sobre o que ocorreu com o time de futebol do Brasil para levar de 7 a 1 para a Alemanha na última Copa do Mundo. As conversas irremediavelmente acabavam com muita gozação e risadas deles e nossas também, pois o humor é a melhor forma para sublimar a dor desta verdadeira tragédia futebolística nacional. Mas vamos pular este assunto...
Em Tozeur fomos também ao muito bem estruturado museu Dar Charait que descreve diferentes aspectos da cultura árabe. Ao lado deste museu, visitamos a exposição “Medina - 1001 noites”, ampla como a do Chak Wak Park e igualmente exótica e divertida, pela miscelânea de referências existentes.
De Tozeur pegamos um caminho alternativo passando a cerca de dois quilômetros da fronteira com a Argélia e com uma bela visão panorâmica, sobretudo do alto de um grupo de montanhas.

  
Dirigimos por belas paisagens, por regiões desérticas, por oásis e por desfiladeiros, e visitamos uma cachoeira e um canyon.

 
Passamos pelas cidadezinhas de Chebika, Tamerza e Midès. O por do sol no cenário de montanhas desérticas de cor alaranjadas foi novamente magnífico.


 
A beleza foi maior ainda, sobretudo porque a lua cheia tinha aparecido no horizonte acima das montanhas justamente antes de anoitecer.

 
Paramos no final da tarde na cidade de Gafsa para dormir. Nos hospedamos em um hotel 5 estrelas, chamado Jughurta Palace, novamente por um preço que geralmente pagamos em hotéis considerados de categoria econômica na cidade de São Paulo. Entretanto é importante levar em consideração que Gafsa não e' propriamente um destino turístico badalado da Tunísia e era pleno inverno (baixa temporada). Mas mesmo assim foi uma pechincha. Moral da história: na baixa temporada dá para pagar bem barato por hotéis mais luxuosos que baixam seus preços para disputar os turistas que ficam em hotéis mais baratos!
De Gafsa fomos para Sbeitla (também conhecida como Sufetula) onde passeamos por um belo parque arqueológico com ruínas da época da ocupação romana, incluindo um imponente arco de Diocleciano. 

 
Passamos algumas horas caminhando por importantes ruínas arqueológicas: o Portão de Antonino, o Templo de Júpiter, os banhos e o teatro. Fantástico!

 
Em seguida, de tarde rumamos para a cidade de Kairouan: ela é considerada o quarto local mais sagrado para a religião islâmica, depois das cidades de Meca, Medina e Jerusalém.


Lá conhecemos o Mausoléu de Sidi Sahab (um companheiro do profeta Mohamed) e bem de manhãzinha, no dia seguinte, visitamos a sua magnífica grande mesquita.

 
Em Kairouan visitamos também as curiosas cisternas circulares imensas para armazenar água para toda a cidade e que foram construídas há mais de um milênio (no século IX) pelos árabes. Uma verdadeira lição para o atual governo do estado de São Paulo.


Aliás, que nos perdoem os paulistas, mas foi um absurdo a reeleição do governador Alckmin diretamente no primeiro turno no final de 2014, numa situação de escassez de água decorrente da falta total de investimentos da Sabesp na última década. Aparentemente a população está meio anestesiada. A grande mídia tupiniquim criou um clima tão intenso de antipetismo exacerbado que faz com que qualquer governo tucano seja visto de modo extremamente condescendente pela opinião pública mesmo que esteja levando a população diretamente para o matadouro ou para o inferno como é mais provável pela ausência de água. A privatização de 49% da Sabesp na primeira metade da década de 2000, com a venda de suas ações na bolsa de valores de Nova Iorque, fez com que estes acionistas passassem a pressionar sistematicamente a direção da empresa para a obtenção de lucros e dividendos em curto prazo (seis meses, um ano, um ano e meio); qualquer investimento em grandes reservatórios de água para a grande São Paulo, por exemplo (com uma população de 20 milhões de habitantes) leva pelo menos uma década para começar a dar retorno. Esta aí a causa da ausência de investimentos da Sabesp na última década! É por este motivo que, muitas vezes, a privatização de serviços públicos que deveriam fornecer para todos os bens essenciais à vida moderna (água, eletricidade, petróleo, educação, saúde, banda larga, etc) acabam por sistematicamente excluir os mais pobres que não têm poder de consumo ou até mesmo acabam por simplesmente não investir na expansão de seus serviços, e mais a frente acabam tendo que ser reestatizadas. Muitas vezes só o estado (que é um ente que não tem o lucro como seu objetivo central, ao contrário de uma empresa capitalista) consegue fazer os investimentos e realizar as ações que no longo prazo (décadas) vão efetivar o desenvolvimento necessário para a população de um país, estado ou município. O aumento quantitativo da população da última década e, sobretudo, o crescimento da nova classe média, que pelo seu enriquecimento relativo (provocado por fatores como a diminuição do desemprego, os programas de inclusão social, os aumentos do salário mínimo acima da inflação, etc) acaba demandando mais os serviços públicos e consumindo mais de tudo (eletricidade, água, educação, carro, acesso a internet, comida com melhor qualidade, passagens de avião, lazer, etc), associado à diminuição de investimentos de longo prazo por parte da Sabesp em grandes reservatórios de água devido à pressão dos acionistas por maiores lucros e dividendos a curto prazo, acabou por levar a este cenário gravíssimo do início de 2015. Já faz meia década que os reservatórios de São Paulo estão diminuindo sistematicamente ano a ano. As chuvas escassas de 2014 agravaram este cenário. E é importante lembrar que de vez em quando um segundo raio cai outra vez no mesmo lugar: se tivermos um outro ano seco em 2015, o cenário pode se tornar desolador. Mas mesmo que isto não aconteça, a situação já é extremamente preocupante. Entretanto, o governo estadual de São Paulo (diretamente culpado pela situação) e a população do estado (anestesiada pela grande imprensa), estão brincando na beira do abismo e não estão percebendo a gravidade trágica da situação. Não deve-se estimular o pânico, mas é forçoso admitir  que a ausência de água pode gerar um cenário de conflitos sociais e entre os cidadãos equivalente ao de uma situação de guerra. E isto não é uma figura de retórica. O governador Alckmin deveria ter iniciado o racionamento de água em São Paulo no início de 2014 (aliás, muitos anos antes disto, deveria ter enfrentado os acionistas –ou não deveria nem ter vendido ações da Sabesp na bolsa de valores – e realizado uma política consistente de investimentos a longo prazo na Sabesp, como fez o governo federal na Petrobrás na década de 2000, o que acabou levando à descoberta das reservas de petróleo do Pré-Sal), mas não o fez para não ter a sua reeleição ameaçada. Reza sobre o PSDB o MITO da excelência, da eficiência e da qualidade da gestão da coisa pública em oposição ao PT que para a grande mídia e para setores da nossa elite só está associado à corrupção e a desastres administrativos. Obviamente um racionamento de água em São Paulo poderia lembrar o racionamento de energia elétrica no Brasil em 2001, na época também governado pelo PSDB, durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Mas agora em 2015, vamos ver até quando o governador vai esperar para decretar o racionamento de água! Será que ele está esperando que São Pedro vai salvá-lo. Do modo como as coisas estão indo, o racionamento será (já está sendo) feito na marra, não por decisão administrativa, mas pela simples ausência de água. E os responsáveis, além do governador, são os grandes meios de comunicação seus parceiros, é a grande mídia amiga e cúmplice deste triste governo estadual tucano.
Uma pesquisa recente revelou que mais da metade dos paulistanos (exatamente 53%) consideram que a culpa da falta de água em São Paulo é do prefeito (petista) Haddad de São Paulo ou da presidente (petista também) Dilma, sendo que o fornecimento de água no Brasil é de responsabilidade expressa dos governos estaduais (daí o sufixo SP da sigla SabeSP)! Anos e anos de lavagem cerebral da nossa grande mídia (o PIG-Partido da Imprensa Golpista) deram nisso... Boa parte dos cidadãos não consegue nem identificar quem é o responsável por suas mazelas. Mas na hora que a anestesia acabar devido à realidade dos fatos e as pessoas começarem a notar a falta de água para suas necessidades básicas (privadas, banhos, cozinha, lavagem de roupas, etc), vamos ver qual será a reação com a dor que surgirá e com o sentimento de ter sido enganado. A internet é uma forma de se contrapor à mistificação da grande imprensa. Mas resta saber se a população paulista vai sair da letargia e começar a se informar de modo a ultrapassar os muros e os limites impostos pelos interesses monopolistas desta nossa grande imprensa conservadora (Globo, Folha, Abril, Estadão, etc). E tomar consciência de fato da situação, dos seus responsáveis e dos desafios para superá-la.
Para dirigir pela Tunísia com segurança com o carro alugado, antes de sair de Tunis, compramos um chip da empresa local Ooredoo e instalamos no meu celular: por cerca de 25 reais tivemos acesso a internet por um mês, que era tudo que precisávamos para consultar sites, reservar hotéis e usar o GPS, algo importante durante a viagem, e ainda de quebra tivemos direito a cerca de 10 reais de ligações de celular que não gastamos! Esta é uma boa dica para quem for viajar para este país (assim como para muitos outros países): instale um chip destes no seu celular
Mas descobrimos que o GPS é uma ferramenta que deve ser usada sempre com o espírito crítico. Para chegar às ruínas de Dougga, o GPS nos levou por uma estradinha de terra estreita e cheia de ovelhas que chegava até perto das ruínas (dava para vê-las à distância), mas que terminava num beco sem saída. Não dava nem para deixar o carro ali e ir a pé, pois não tinha como chegar andando lá. Tivemos que voltar até a cidadezinha mais próxima e pegar outro caminho, obviamente uma estrada asfaltada! Realmente, o principal sítio arqueológico com ruínas romanas do país não deveria ter como acesso uma estradinha de terra “fuleira”! GPS: use com moderação, consciência e de modo crítico!
O parque arqueológico de Dougga tem as mais bem preservadas ruínas romanas de todo o norte da África, com belíssimos templos, cisternas, arcos e igrejas. O prédio do Capitólio de Dougga, com as suas seis colunas imensas e frontais, apoiando um pórtico todo esculpido, no alto de uma elevação montanhosa, domina toda a paisagem.

 
Há também um anfiteatro romano para 3500 pessoas, que foi recuperado pelo governo tunisiano e onde se realiza todo o ano o festival de Dougga.


A cidade romana de Dougga no seu apogeu entre os séculos II e IV d.C. abrigava cerca de 5 mil habitantes. As horas que passamos passeando pelas ruínas foram de pura contemplação. No final da tarde vimos até alguns pastores trazendo suas ovelhas para pastar nas redondezas. Infelizmente havia muito poucos turistas neste local. Seria a baixa temporada (inverno) ou será que eram os efeitos da crise nos países europeus que está afetando o turismo em países como a Tunísia que sempre receberam muitos turistas europeus?
A Tunísia é bilíngue e as placas nas estradas estavam quase todas em francês (na verdade estavam no alfabeto latino que era o que importava) e em árabe. As estradas, aliás, são bem conservadas e seguras, com muito poucos buracos, mesmo no caso das estradas secundárias. Só na autoestrada duplicada que liga o norte ao sul do país pelas proximidades do litoral é que pagamos pedágio (e bem baratinho). O policiamento e' fortíssimo, com postos e barreiras policiais por todos os lados parando carros, mas curiosamente nunca fomos parados. Acho que foi por causa da cor da placa do carro que era azul e talvez denunciasse que o carro era alugado; deve existir uma norma de conduta para os policiais não importunarem turistas em carros alugados, para não afugentá-los e evitar criar uma má fama turística. De fato, o turismo é uma das quatro maiores fontes de receitas da Tunísia, junto com a produção de petróleo (feita na região do Saara nas proximidades com a Argélia), de fosfatos e de produtos agrícolas.
            Fomos também visitar, na costa norte da Tunísia, a cidade de Bizerte, onde nos hospedamos no hotel Jalta (situado bem a beira mar) que é recomendado (com razão) pelo nosso Guia Lonely Planet. A visão que se tem do mar é belíssima. Ao cair da noite, a Lua apareceu bonitona, bem sobre o mar, no horizonte, na janela do nosso quarto de hotel!
Em Bizerte o legal é ir passeando de carro até a praia de La Grotte, com dramáticas falésias e um cenário lindo.


Passeamos também um pouco pela região do forte espanhol de Bizerte, próximo ao centro da cidade.


Entre Bizerte e Tunis estão situadas as ruínas de Utica, a mais antiga cidade fenícia no norte da África e que foi fundada aproximadamente em 1100 a.C. O sitio arqueológico é pequeno se comparado aos outros que nós já tínhamos visitados e isto se deve também pela sua antiguidade. Mas as ruínas existentes são muito interessantes e as escavações continuam, como foi possível perceber; há também um pequeno museu que vale a pena ser visto.

 
Voltando para as proximidades de Tunis, passeamos pelas cidades turísticas de La Marsa e de Sid Bou Said (uma espécie de Campos do Jordão litorânea deles a beira mar). Passamos a noite em um hotel em La Goulette (uma outra cidadezinha), situado bem ao lado da praia.


No dia seguinte, pela manhã devolvemos o carro em Tunis e nos hospedamos mais duas noites nesta cidade, desta vez no hotel Tiba que é bem moderno. Em grandes cidades, em nossa opinião não é uma boa ideia ficar com carro alugado: é melhor e mais adequado passear a pé, bater perna e aprender a usar os meios de transporte locais para conhecer os lugares mais legais de cada cidade: em grandes cidades o carro acaba sendo um estorvo em diversos sentidos, como para estacionar, por exemplo. O carro é ideal para visitar regiões e cidades esparsas de um país (o seu “interior”) e no caso em que é realizado um “loop” (uma volta, um giro) de modo a sair e retornar ao mesmo local, de preferência sem passar duas vezes pelo mesmo local (isto porque o aluguel do carro geralmente sai bem mais caro se você não devolvê-lo no mesmo local que o retirou). Foi o que fizemos na Tunísia. Saímos de Tunis e descemos até o sul do país pelo litoral, retornando ao norte do país e a Tunis por estradas do interior: isto tudo em 8 dias!
No último dia em Túnis, passeamos pelo centro da cidade e até encontramos uma manifestação política pacífica (não tinha “black blocs”) em frente ao teatro municipal, mas não conseguimos entender a sua motivação ou as suas reivindicações.


       Batemos muita perna pelas ruelas da Medina cheias de lojas com todo tipo de comércio.



 
Passeamos também pela Place de La Kasbah, uma imensa praça aberta com monumentos e espaços livres para eventos oficiais ou grandes manifestações.


Almoçamos no delicioso restaurante Dar Slah, situado na Medina da cidade de Tunis, neste nosso último dia nesta cidade. Além do preço ter sido bem razoável e da comida ser deliciosa, os funcionários foram extremamente gentis conosco (inclusive o dono que nos atendeu maravilhosamente também). Foi uma dica legal do nosso Guia Lonely Planet que recomenda especialmente este restaurante com pratos típicos da Tunísia. Da entrada à sobremesa tudo estava uma delícia! Antes seguíamos mais estritamente as recomendações do Lonely Planet, mas ultimamente temos variado as nossas fontes de informação e usado mais a internet (como é o caso dos sites booking.com e tripadvisor.com). Mas continuamos usando moderadamente o Lonely Planet que frequentemente tem dicas preciosas.
            Tínhamos duas opções para ir de Tunis para Palermo na Sicília (ilha da Itália): de barco (o Ferry Boat leva cerca de 11 horas para atravessar mais de 100 km de mar, de noite) ou de avião (cerca de uma hora), pela Tunisair. Acabamos por escolher a segunda opção que era a mais cara, obviamente, mas que era a mais adequada para nós, devido às especificidades da viagem.
A Tunísia foi um país fascinante de se reconhecer e que recomendamos pelas suas belas paisagens, pelas ruínas arqueológicas, pelo seu simpático povo, pela segurança existente e pelos preços razoáveis. No verão as suas praias devem ser belíssimas o que é mais um atrativo para se conhecer o país. 
            No dia 8 de janeiro de 2015, nos despedimos da Tunísia e voamos para a ilha da Sicília, na Itália (quem quiser conhecer esta parte da nossa viagem na Sicília deve acessar a aba da Europa deste blog).




 

MARROCOS




Diretamente do Marrocos: um feliz 2013 atrasado para todos! O mundo NÃO acabou...

Decidimos neste final de 2012 conhecer este simpático país do norte da África e partimos para o nosso destino pela KLM (via Amsterdam e Paris!). Chegando na cidade de Casablanca (onde fica o aeroporto internacional do Marrocos), imediatamente pegamos um trem em direção à cidade de Marrakesh (mais ao sul e no interior do país).

Bom, eis abaixo um pouco da história do Marrocos (Marocco como aparece nos guias em inglês). O Marrocos foi habitado ancestralmente pelas tribos berberes que são os habitantes originais do país. Os fenícios estabeleceram um posto avançado de comércio no litoral próximo a Casablanca no século VI a.C. Depois, os romanos chegaram aqui com a expansão do seu império: foi quando o mar Mediterrâneo ficou conhecido como sendo um lago romano, o que acabava incluindo a entrada do Atlântico como região de influência romana. Com a desagregação do império, os romanos se foram, mas deixaram um legado no país.

Depois da hégira (exílio) do profeta Maomé (Mohamed) no ano de 622 d.C., o islamismo se espalhou pela Ásia e pelo norte da África. Os árabes ocuparam o Marrocos cerca de 60 anos depois e fizeram do país uma base para a ocupação da península ibérica (Espanha e Portugal). Nós brasileiros somos em muito também frutos desta história de nossos colonizadores portugueses. E viajando pelo Marrocos, conseguimos perceber como isto de fato ocorreu! Um exemplo claro disto, são os belos azulejos que encontramos, por exemplo, em cidades brasileiras como São Luis do Maranhão.



Os seus padrões geométricos são característicos da cultura árabe, até pelo fato de por motivos religiosos eles não poderem representar figuras humanos em suas pinturas e nos motivos de seus prédios. Portanto estes padrões geométricos e abstratos que se repetem ad infinitum (como ocorre também em azulejos) se desenvolveram muito na cultura árabe e inclusive foram a base para desenvolvimentos matemáticos posteriores. Pintores fantásticos como Escher também beberam desta fonte.



Por vários séculos foram constituídas aqui varias dinastias: umaiades, idrissidas, almoravidas, almoadas, merenidas, saadianos, alauitas, alvavitas, etc.

Os muçulmanos (denominados de mouros pelos cristãos) foram expulsos da península ibérica em 1492: depois da reconquista, tanto eles, quanto os judeus, para poderem ficar, tinham que se converter na marra ao cristianismo. 



Nos séculos seguintes, portugueses e espanhóis  invadiram e ocuparam partes do Marrocos. Mas quem “ficou” com o país definitivamente foi a França e é por isso que até hoje o país é bilíngue: quase todos aqui falam francês e árabe (e muitos falam também a língua berbere que está passando por um período de revalorização). O Marrocos no início do século XX se tornou um protetorado francês. Mas o problema de ter um “protetor” é descobrir como se proteger do seu protetor quando ele te ameaça! Os marroquinos portanto são o fruto de uma grande mistura de diversos povos!


Foi somente em 1956 que o Marrocos ficou independente. E o país vem se desenvolvendo desde então. É uma monarquia parlamentarista constitucional com um relativamente jovem rei: Mohammed VI.  Parece que o país não foi muito afetado pela primavera árabe até o momento, até pelo fato de que politicamente o país já tem eleições democráticas há muitos anos. Inclusive vimos em Marrakesh uma manifestação pacífica (uma passeata) contra o alto preço da energia elétrica.



Passamos o “fim do mundo” em Marrakesh: foi lá o local em que estávamos ao longo de todo o dia 21 de dezembro de 2012. Foram momentos de tensão até que a meia-noite chegasse e chegasse ao fim o fim do mundo rsrsrsrsrs… Brincadeirinha!

Marrakesh tem no fundo do seu horizonte os belos picos nevados das montanhas Atlas, as mais altas desta parte norte da África.



Por aqui, antes de nós estiveram os Beatles, os Rolling Stones e o Led Zeppelin. Estamos bem acompanhados. O movimento hippie e a contracultura devem muito a esta cidade. Como brincamos, resolvemos passar o fim do mundo não prá lá de Marrakesh, mas sim na própria Marrakesh. No centro da cidade fica a bela Mesquita (infelizmente na maioria das mesquitas daqui quem não é muçulmano não pode entrar) com seu Minarete, uma torre que é a construção mais alta da cidade.


  
Ali por perto fica a medina (cidade antiga medieval murada) com suas ruelas (souqs) estreitas e cheias de lojinhas onde se vende de tudo. Nestes souqs de vez em quando aparece, numa curva, um burrinho carregando produtos de seu dono geralmente a uma velocidade considerável para o local: portanto, é preciso estar atento e forte… Parte do passeio é se perder nestes souqs! E nos perdemos várias vezes, quase sempre para mais a frente nos encontrarmos: é como a vida! Andar pelos souqs é mais ou menos como voltar mil anos no tempo, para o meio da idade média!



Os muçulmanos por muitos séculos conviveram em grande paz contra os judeus – uma prova disto é a existência de bairros judeus em muitas cidades daqui, os chamados Mellahs. As duas culturas (muçulmana e judaica) conviveram em paz e colaborando entre si por séculos, sendo ambas atacadas pelo inimigo comum delas por séculos – os cristãos! É bom saber isto para ter uma perspectiva histórica acerca dos conflitos que ocorrem atualmente no oriente médio!


  
A bebida universal do Marrocos (o equivalente do nosso cafézinho) é o chá de hortelã: uma delícia, geralmente servido em copos altos e estreitos com a água quente colocada sobre as folhas de hortelã que preenchem o copo inteirinho. Muitas coisas aqui têm um custo menor que no Brasil (taxis, por exemplo), mas não muito menor.


  
Os dois pratos típicos do Marrocos são o Tagine e o cuscuz. Mas atenção, o cuscuz marroquino é totalmente diferente do nosso cuscuz. Uma sobremesa que gostamos muito consistia de fatias de laranja bem geladinhas “temperadas” com canela e açúcar.
O centro da cidade antiga do Marrocos (medina) é o Djemaa el-Fna, uma área aberta onde se encontra de tudo, desde tatuadoras de henna até encantadores de serpentes: aqui é onde ocorre a “ação”!


  
O divertido é sentar em alguma mesa de um bar e ficar vendo o desfile passando na sua frente: festa estranha com gente esquisita, mas muito interessante!


  
Aqui aconteceu não faz muito tempo um atentado com bombas (possivelmente realizado por um grupo ligado a Al Kaeda) que diminuiu o turismo apenas por pouco tempo. Os turistas europeus estão aos poucos voltando a frequentar o país, o que é muito bom para o Marrocos, pois traz divisas e ajuda no desenvolvimento econômico e social. A moeda do país é o Dhiram, e durante a nossa viagem, mais ou menos um euro valia 10 dhirans!


  
A religião muçulmana tem uma série de rituais específicos e um deles é o dever de todo fiel rezar cinco vezes por dia em horários específicos e voltados para a direção de Meca. Mas para “lembrar” os fiéis, estas rezas são “narradas” por especialistas em megafones (às vezes, são gravações) espalhados por todas as cidades. Portanto é impossível estar em uma cidade de maioria islâmica e não perceber isto (pelo ouvido) em algumas horas.

Em Marrakesh, assim como nas demais cidades do país, as laranjeiras (cheias de laranjas) são as árvores que mais se aparecem nos jardins e parques! Os jardins da grande mesquita de Koutoubia estavam cheios de laranjeiras!


  
A bandeira do país é vermelha com uma imensa estrela verde de cinco pontas (um pentagrama).


  
Uma coisa percebemos claramente durante a nossa viagem toda no Marrocos: este país tem um sistema de transporte por trens de muito boa qualidade entre as suas principais cidades, tão bom quanto os trens europeus; os trens são limpos, rápidos e ligam as principais cidades, justamente as que visitamos (Marrakesh, Casablanca, Fez, Meknés e Tangier. E também a capital, Rabat, pela qual passamos de trem, mas que não visitamos. Todas as estações de trem que conhecemos (cinco) são belíssimas, limpas e muito seguras.


  
Em Marrakesh visitamos o Palácio Bahia (que significa beleza no árabe original): interessante foi entrar no antigo harem – lembrem-se que além de poderem ter até 4 esposas, muitos daqueles mais ricos habitantes daqui tinham muitas concubinas! O legal de visitar os palácios e mansões é se perder em suas salas e deixar a curiosidade nos guiar...


Visitamos também o palácio Badi, as tumbas saadianas, a Dar Si Said (Dar = grande mansão) e a Medersa Ali ben Youssef (Medersa=antiga escola de cunho religioso, mas não somente religioso).


  
Em muitas das construções antigas, alguns pássaros grandes aproveitam para fazer seus ninhos.


Mas um dos locais mais bonitos da cidade foi o Jardim Majorelle que foi criado pelo artista Jacques Majorelle na primeira metade do século XX.


  
Ele foi comprado por Yves Saint Laurent e por seu companheiro Pierre Bergé que “transformou” este jardim em uma das joias de Marrakesh – as cinzas de Saint Laurent foram espalhadas pelo jardim, de acordo com o desejo em seu testamento.

 
Uma possibilidade de hospedagem em Marrakesh (como em outras cidades do país) é ficar em um Riad (o nome dado para antigos casarões imensos e elegantes). Muitos Riads se transformaram em hotéis ou em pousadas, para a felicidade dos turistas.
De Marrakesh pegamos o trem e fomos para Casablanca no litoral: uma agradável viagem de trem de 3 horas. A grande atração da cidade é a sua imensa Mesquita de Hassam II, situada ao lado do oceano Atlântico.

  
O conjunto todo da obra conspira para impressionar as nossas sensações. Todos os vários quilômetros de costa ao sul desta Mesquita constituem a região mais rica da cidade, com muitos restaurantes e lojas de luxo. Os homens do Marrocos invariavelmente vestem uma espécie de “roupão” chamado jellaba que vai até os pés e com um capuz pontudo (tipo chapeuzinho vermelho só que geralmente preto ou de cor escura): pareciam “duendes”…





E no final da rica avenida sinuosa (Boulevard de la Corniche, bairro de Anfa), um imenso shopping inaugurado a pouco tempo (segundo a propaganda, é o maior de todo o norte da África), o Morocco Mall, com uma imensa sala IMAX de cinema na frente. Dentro do Shopping havia um imenso e impressionante aquário de 3 andares com tubarão e tudo.

  
Em todos os locais que entramos invariavelmente cumprimentamos quem está presente com o famoso “Salamalekum”  (uma espécie de “oi” deles, mas com uma conotação religiosa).
Uma semana antes de estarmos em Casablanca havia sido inaugurado o seu primeiro sistema de transporte do tipo “tram” (espécie de bonde sobre trilhos de superfície, muito eficiente). Os marroquinos  estavam orgulhosos do sistema que ainda estava em testes!  Aos poucos vários países mais pobres do mundo parecem estar emergindo do subdesenvolvimento. O Marrocos é mais pobre que o Brasil na média, mas mesmo assim, não tão mais pobre como são os países da denominada África negra, ao sul do Saara. Casablanca tem uma antiga medina, mas o que vale muito a pena conhecer é a região da nova medina (quartier habous), cheia de belos prédios, grandes jardins e com novos museus surgindo.
Talvez devido a influência  francesa, o cigarro é uma presença constante nos bares e restaurantes e pelo visto ainda não há lei proibindo o fumo nestes estabelecimentos, infelizmente. O Marrocos é, de certo modo, o Brasil de 20 anos atrás…

De Casablanca fomos para Fez, no interior e mais ao norte, a mais famosa das antigas cidades imperiais árabes. Fez tem uma medina também impressionante e na qual nos perdemos até encontrarmos perdido no meio daquelas ruelas medievais um restaurante em forma de palácio que foi inesquecível (e barato): marquem o nome – é o Dar Saada! Foi um achado: comida deliciosa…

  
Dentro da Medina está a antiga universidade de Fez, ao lado da grande Mesquita Kairaouine. Pena que como não somos muçulmanos, não pudemos entrar nelas… Na medina estivemos também na Medersa (escola) Bou Inania, em um prédio com séculos de idade muito bem preservado. Toda a arquitetura árabe é magnífica, com uma mistura de mosaicos, azulejos, estruturas feitas em alto relevo, etc. Em Fez, ficamos hospedados perto da Place Florence (na cidade nova), perto da bela e arborizada avenida Hassam II, um local de muita vida noturna elegante…

  
Fizemos a partir de Fez um passeio de um dia para conhecer as ruínas da cidade romana de Volubilis, o melhor sítio arqueológico do Marrocos e patrimônio da humanidade pela Unesco desde 1997. Foi um  passeio de um dia belíssimo: fazia sol, e ficamos andando horas pelas ruínas romanas, seguidos por alguns gatos interessados em turistas que lhes dessem comidinha…

  
Visitamos também a cidade imperial de Meknés (uma Fez menorzinha), onde estivemos no Mausoléu de Moulay Ismael, no  museu Dar Jamai e no agradável Instituto Francês. Uma característica da cidade é o imenso e belo portão Bab el-Mansour em uma parte do grande muro que cerca a medina (e as vezes a corta, pois não parece existir muita lógica em algo que se expandiu ao longo dos séculos). Meknés fica a uma hora de Fez de trem.

  
Finalmente de Fez fomos para Tangier no litoral norte do Marrocos, ao longo do estreito de Gibraltar que separa o Marrocos da Espanha (e a África da Europa) ligando o oceano Atlântico ao Mar Mediterrâneo. Uma cidade portuária, cosmopolita e cheia de locais interessantes para conhecer. De certos pontos da região mais alta da cidade de Tangier é possível ver o estreito de Gibraltar e, do outro lado, a Europa.

  
Em Tangier foi gravada a cena inicial do filme “Ultimato Bourne” com uma sequência de perseguição sensacional e que dá uma boa ideia do que são os souqs e vielas dentro da cidade antiga – aliás, foi na sua medina que conhecemos a mais bela atração de Tangier em nossa opinião: o museu do Legado Americano de Tangier. O Marrocos foi o primeiro país do mundo a reconhecer a independência dos Estados Unidos da América (antes do próprio Marrocos perder a sua independência). Este museu é um bálsamo no meio da Medina e tem uma parte em homenagem ao escritor Paul Bowles.  

  
Desculpe-nos os eventuais erros destes relatos que foram escritos sem revisão… No Marrocos um dos principais problemas que tivemos foi que os teclados dos computadores de todo o país não são to tipo QWERTY (veja as primeiras teclas do seu computados na parte superior esquerda – formam a sequência QWERTY que é assim devido a uma razão histórica. Mas no Marrocos os teclados tem a letra A no lugar onde nos nossos computadores está o Q. Para quem está acostumado a teclar sem olhar o teclado isto é uma verdadeira desgraça. Na verdade não são todas as letras que estão trocadas, somente algumas, mas estas trocas já provocam um caos na hora de digitarmos qualquer texto.
Atravessamos o estreito de Gibraltar para a Andaluzia (região sul da Espanha) de Ferry Boat do porto de Tangier Med (fica a 40 km da cidade – fomos com uma “grand taxi” – taxi onde vão apertados 6 passageiros que pagam o mesmo preço de um ônibus). Cerca de uma hora e meia de travessia até a cidade espanhola de Algeciras (dava para ir até a cidade espanhola de Tarifa também).

  
Vejam vocês que ironia. No lado europeu ou espanhol do estreito de Gibraltar, uma parte é dos ingleses (a cidadezinha de Gibraltar) que a garfou dos espanhóis. E do lado africano ou marroquino do estreito de Gibraltar, uma parte é dos espanhóis (a cidade de Ceuta) que a garfou dos marroquinos! Moral: Quem pode mais (poder militar), chora menos! São resquícios do passado da Inglaterra e da Espanha como impérios coloniais que foram. Recado para aqueles que são mais ingênuos: é por isso que é importante que o Brasil tenha forças armadas profissionais, equipadas, eficientes e que respeitem a democracia.





ÁFRICA DO SUL / QUÊNIA / TANZÂNIA / MOÇAMBIQUE



Início de 2012: viajamos pela África visitando o continente onde originou-se o ser humano.

Chegamos no dia 4/janeiro/2012 em Johanesburgo (na África do Sul), pela SAA (South African Airways) onde ficamos duas noites no Hostel Diamond Diggers. Nesta que é a maior cidade do pais, visitamos 3 interessantes museus. O mais impressionante foi o Museu do Apartheid que merece uma tarde toda de tão imenso e que conta toda a história da luta contra a segregação racial na África do Sul com especial ênfase na história da vida de Nelson Mandela.



Aliás, o Mandela é um ícone do país, um herói (ficou 27 anos na cadeia pela sua luta contra a segregação racial): logo no Aeroporto há uma grande “escultura” dele!



Em Johanesburgo, também foi interessante conhecer o Museu dos Trabalhadores ou Workers Museum (que narra a história do movimento trabalhista no pais, desde a fundação dos primeiros sindicatos no início do século XX) e o “Museum Africa” (imenso e abordando uma variedade de temas diferentes, tais como geologia, quadrinhos, fotografias, arte, etc).

 No dia 6/janeiro pegamos um avião da Kenya Airways e voamos para a cidade de Nairóbi (3 milhões de habitantes), capital do Quênia, pais situado no leste da África: nos hospedamos no Hostel UpperHill Backpackers. Estamos curtindo bastante a viagem, mas na chegada uma coisa desagradável ocorreu e só percebemos quando chegamos  no hostel: a presilha onde estava o cadeado de uma das malas tinha sido estourada e furtaram cerca de 300 reais que estava em uma sacolinha na redinha da mala. Possivelmente foi algum carregador antes da mala aparecer na esteira para a pegarmos de volta. Desagradável, mas foi uma falha nossa também! Regra número um para qualquer viajante: jamais deixe dinheiro, chaves, documentos e cartões de credito dentre da mala em aviões! 

Um pouco de história do Quênia. No vale do Rift que corta o país de norte a sul, há cerca de 4 milhões de anos estava caminhando pela savana o primeiro de nossos ancestrais com postura bípede: o Australopiteco, nosso “tataravô”! Aqui na região também evoluiu o Homo habilis (primeiro hominídeo do nosso gênero Homo), o Homo erectus (com um cérebro bem maior) e a nossa espécie Homo sapiens (que surgiu entre cem e duzentos mil anos atrás): somos, portanto, todos de algum modo afro-descendentes.



Os árabes chegaram no litoral leste da África no meio da idade média e se estabeleceram como mercadores. Graças aos árabes é que o “Swahili” é o idioma universal que e falado pelas dezenas de tribos/etnias diferentes do pais e de outros países da região: a primeira palavra que todos aprendem em swahili é “jambo” que significa “oi”! Os portugueses chegaram há 5 séculos e trouxeram todo o esquema mercantil envolvido na escravidão em massa dos negros africanos. Mas ninguém se interessou muito pelo continente até o século XIX quando começaram a ser descobertos metais e pedras valiosos na região. Em 1884, na conferência de Berlim as potências européias resolveram retalhar e partilhar todo o continente (sem consultar nenhuma liderança Africana obviamente) e o Quênia ficou com a Inglaterra: por isso aqui eles dirigem do “lado errado” (volante do lado direito). Em 1963 o guerrilheiro Jomo Kenyatta liderou a luta pela independência do país: quem quiser saber mais deve procurar na internet sobre a famosa guerrilha Mau Mau que conseguiu enfrentar e derrotar o poderio britânico. Diga-se de passagem, os ingleses nos anos 50 (na década anterior à independência) foram extremamente cruéis e brutais no tratamento dado aos guerrilheiros que lutavam contra a Coroa Inglesa. O Quênia é hoje considerado uma espécie de “Europa” da África, pela sua estabilidade política, que só foi abalada por conflitos que ocorreram no final de 2007 devido à contestação dos resultados das eleições para presidente que se seguiu à declaração dos resultados. Mas pelo que vimos o país está em paz e vale muito a pena ser visitado! Um orgulho para os quase 40 milhões de quenianos é o fato de que o pai do presidente dos EUA (Obama) foi um queniano (a mãe é do Hawai).

Os quenianos preferem tomar cerveja quente (e os gregos, café gelado): portanto, viva a diversidade da humanidade! Gosto não se discute!

A moeda aqui é o Shilling do Kenya (Ksh); a cotação é de aproximadamente US$ 1 = Ksh 87 e as coisas em geral custam um pouco menos que no Brasil. Em Nairóbi compramos com dólares norte-americanos (US$) um tour por 3 dos parques nacionais mais importantes do país, todos próximos da fronteira com a Tanzânia, no sul do país, em busca dos animais famosos da savana da região (o clima agora em janeiro é bem quente e seco): elefantes, leões, leopardos, hipopótamos, rinocerontes, girafas, búfalos, gnus, gazelas, impalas, antílopes, avestruzes, zebras, hienas, chitas (ou guepardos), chacais, águias, babuínos, javalis, etc.

  
A árvore típica da savana é a acácia (que se abre no seu topo em forma de guarda-chuva e proporciona uma bela sombra para se proteger da inclemência do sol).
Em primeiro lugar, visitamos a Reserva Nacional Masai Mara e logo nas primeiras horas do safári encontramos um grupo de leões descansando.



A Reserva Nacional Masai Mara tem este nome em homenagem ao povo Masai (em português, “massai”) cujos ancestrais vivem milenarmente nesta região. Eles antigamente eram caçadores e guerreiros, mas hoje sao basicamente pastores de gado; vestidos com suas roupas quadriculadas vermelhas típicas sao os únicos que podem entrar neste “parque” com seus rebanhos de vacas e bois.


O Masai Mara é uma reserva nacional e não um parque nacional justamente porque permite que os Masai transitem pelos seus limites. O parque esta abarrotado de leões que, segundo explicaram, temem os Masai e não se aproximam do gado dos Masai. E os Masai pastoreiam seu gado sem portar armas de fogo, somente usando um grande facão! Se não tivéssemos visto, não teríamos acreditado. Agora, se mesmo assim uma vaca dos Masai for morta por um leão (ou outro predador selvagem), existem ONGs que dão uma compensação financeira ao dono da vaca, porque em caso contrário os Masai colocam carne envenenada para matar o leão em questão, se o mesmo retornar! Há todo um trabalho que visa minimizar ao máximo o conflito existente entre homens e animais selvagens dentro do parque. Para quem quiser saber mais sobre o povo Masai, vale a pena assistir o filme “A Masai Branca” que conta a história verídica de uma européia que veio para a região, apaixonou-se por um homem Masai, casou-se com ele e viveu por um tempo nas condições em que vivem os Masai (inclusive aceitando o papel subserviente que tem a mulher na cultura Masai), até se divorciar (opa, contei o final do filme, me desculpem…). 
A cultura Masai está toda baseada na idade. Como vivem em um ambiente inóspito (uma bobeada e você ou seu bebê podem virar comida de algum predador), os Masai trataram de minimizar os riscos, no lugar de maximizar os ganhos, que é o que predomina em nossa sociedade ocidental/capitalista na qual o risco (característica associada principalmente à juventude) é excessivamente valorizado, como vimos pelos resultados da grande crise econômica que iniciou-se em 2008. Portanto, entre os Masai, a idade avançada é vista, ainda hoje, como fonte de sabedoria e não como um estorvo (os idosos são uma espécie de “google” desta cultura tradicional e basicamente oral)! O status/grupo social de cada um na sociedade Masai é determinado pela sua idade; há várias faixas pelas quais os indivíduos passam conforme envelhecem.

O Parque Masai Mara no sul do Quênia junto com o Parque Serengeti no norte da Tanzânia formam na verdade um corredor, um parque único binacional sem fronteiras por onde ocorrem as famosas migrações de gnus e outros animais como gazelas e zebras, mas não em janeiro, mas mais para o meio do ano! O parque é uma beleza de ser visto; os melhores safáris ocorreram bem de manhã ou no final da tarde quando o calor da savana não é tão grande. Uma bela cena foi ver um filhote de zebra mamando e tomando o seu “cafezinho da manhã”! As zebras têm um comportamento interessante: tomam banho de areia – se viram de costas no chão e se esfregam na terra/areia tomando um banho seco!


Os animais considerados “Big 5” (“5 grandes”) são o Leão, o Elefante, o Rinoceronte, o Leopardo e o Búfalo. Não levávamos muito a sério a inclusão do Búfalo neste grupo seleto, até vermos um grupo de uns 10 búfalos avançando sobre dois leões imensos que estavam por perto e saíram correndo de medo, por incrível que pareça. Moral da história: Todo rei também tem o seu dia de plebeu! Os búfalos são considerados os mais agressivos dos animais da savana e os Masai que não temem os leões, temem somente os búfalos!






Vimos também um impala macho com um harém de cerca de 30 impalas fêmeas, harém este que ele somente tem vigor e força física para manter por 3 meses longe de outros machos (o mesmo sistema de haréns ocorre também com uma das espécies de gazela).



A regra geral dos safáris em vans/peruas é: nunca saia do carro. O teto da nossa van era retrátil e dava para ficar de pé nela e ver por cima da van os animais, que mesmo que estejam próximos (mesmo os leões) nunca pulam para dentro do carro pelo seu teto aberto (o carro/perua parece ser visto como uma “entidade” por eles).



Outra regra (sobretudo para quem aluga carros) é nunca sair dos caminhos e estradas de terra existentes. Uma história surreal que escutamos foi a de dois turistas estrangeiros que alugaram um carro e entraram pela savana saindo dos caminhos e estradas pré-definidos, mas acabaram atolando o carro (era época de chuva). Como o celular não pegava, eles resolveram sair do carro e fazer uma fogueira (tinham ouvido falar que os animais fogem do fogo). O problema foi que com o vento, o carro pegou fogo junto e eles ficaram literalmente num mato sem carro, sem cachorro e com muitos leões. Saíram correndo desesperados torcendo para não encontrar predadores até serem encontrados por guardas. Estes devem ter aprendido a seguir regras!

O segundo parque que visitamos foi o Parque do Lago Nakuru, situado ao redor deste lago de águas alcalinas (com bastante sal). Este parque tem um tamanho menor, mas apresenta bastante vida selvagem. Foi interessante ver algumas zebras espantando uma hiena que saiu correndo de medo – a melhor defesa é o ataque. E saibam que a hiena tem uma das maiores presas/dentes dentre todos os predadores. Vimos também uma “rinoceronta” caminhando com seu filhotinho logo atrás.



E vimos muitas zebras, todas caminhando em fila indiana: parece que elas secretam pelas suas patas uma substância que faz com que as outras sigam exatamente o mesmo caminho. Vimos também “tropas” de babuínos que avançam como um exército, com os machos maiores caminhando na frente e nos lados e as fêmeas e os filhotes no meio. Aliás, foi interessante observar dois babuínos interagindo socialmente: um catava os piolhinhos do outro e depois o outro fazia o mesmo no primeiro. Parece que nossos ancestrais primatas também faziam o mesmo e talvez daí nasceu a fofoca!



A caminho do terceiro parque, já de noite, quase que o nosso motorista atropelou uma girafa imensa que atravessava a estrada asfaltada. Portanto, na África, dirija com cuidado! Aliás, há excelentes estradas no Quênia, mas também vimos estradas muito esburacadas, é importante ressaltar.

O terceiro parque que visitamos foi o Parque Amboseli, perto da fronteira com a Tanzânia. Dele foi possível avistar o pico nevado do Kilimanjaro (que está localizado em território tanzaniano, do outro lado da fronteira que fica próxima), o ponto mais alto da África com quase 5.900 metros de altitude, imponente e majestoso, com as suas neves no seu topo contrastando com o calor infernal da savana onde estávamos.



Desde 1912 (quando começaram as medições), 80% da sua neve já derreteu e com o aquecimento global se intensificando, se calcula que até 2020 não haverá mais neve no seu topo (portanto corra se quer ver o pico ainda nevado)! E esta neve das geleiras do Kilimanjaro é vital para produzir a água de todo a região do seu entorno. Vimos, alem disso, um pouco de sexo animal: um elefante macho “transando” com uma “elefoa”. Vimos também um leão e uma leoa, descansando em lua de mel, esperando a noite cair e ocorrer um pouco de “privacidade”: era 17:30 e havia mais de 10 vans de safáris perto, cheias de turistas com binóculos esperando inutilmente pela ação, pois depois das 18 horas todos os carros tem que sair do parque. Vimos também vários grupos de elefantes característicos deste parque, sempre protegendo seus filhotes que vão sempre no meio da manada.
  
O parque Amboseli tem muitos elefantes e isto é um problema para eles, pois a sua área não sustenta um numero tão grande de elefantes, que na quantidade em que estão derrubam parte considerável da cobertura vegetal da região que está se desertificando em boa parte de sua área total. Eles derrubam as árvores para comer, para se coçar, para brincar (aliás, foi muito legal ver eles tomando banho e brincando em lagoas da região). A solução deverá ser transferir parte dos elefantes para outros parques maiores que têm mais vegetação e podem sustentá-los. A sociedade dos elefantes é matriarcal com a elefoa mais velha (uma avó) sendo a mandachuva que lidera; as fêmeas ajudam a proteger todos os filhotes da manada!

Vimos também no fim da tarde uma hiena deitada dando de mamar tranquilamente na beira da estrada de terra para seu filhote que já estava meio grandinho e logo vai ter que procurar a própria comida.



Estamos nos hospedando em acampamentos privados, com tendas já armadas e em alguns casos até com camas dentro delas e banheiros no fundo: são quase casas! Temos visto nesta viagem (feita em 2012) muitos turistas chineses, russos, brasileiros, indianos, etc, ou seja dos BRICs (Brasil+Rússia+Índia+China) e de outros países emergentes (turcos, coreanos, argentinos, búlgaros, etc), e menos turistas europeus, norte-americanos e japoneses em relação às viagens anteriores. Ou seja, a crise econômica esta mudando de fato, pelo menos um pouco, o centro de poder no mundo! Há muitos investimentos chineses no Quênia (como em toda a África), como, por exemplo, em estradas! Todos aqui gostam muito do Brasil que é sempre conhecido pelo seu futebol e pelos seus jogadores! A política de maior proximidade com a África, realizada pelo governo brasileiro nos últimos anos, tem como consequência uma grande simpatia dos africanos em geral pelo Brasil. Finalmente, do parque de Amboseli nos deslocamos para a cidade de Namanga para cruzar a fronteira com a Tanzânia.

Depois de conhecermos os 3 principais parques do Quênia, atravessamos a fronteira, entramos na Tanzânia e fomos para a cidade de Arusha, a base para conhecermos os parques do norte da Tanzânia que é um país muito parecido com o Quênia em termos históricos. A capital da Tanzânia é a cidade litorânea de “Dar Es Salaam”, mas Arusha (uma pequena cidade se comparada com a capital) é mais conveniente como base para visitar estes parques. Por Arusha também passam os alpinistas a caminho de procurar atingir o topo da África: para “escalar” o pico do Kilimanjaro (o “teto” da África), as agências de turismo disponibilizam guias e “carregadores” (os grandes heróis destas aventuras) que fazem todo o trajeto em cerca de 7 a 9 dias! No ônibus conhecemos 3 rapazes e 2 moças (britânicos) que estavam cheios de energia a caminho desta aventura...

A Tanzânia também tem grandes extensões de savanas, por onde nossos ancestrais, os Australopitecus caminharam (já como bípedes) e deixaram marcas de suas pegadas em cinzas vulcânicas no desfiladeiro de Olduvai há cerca de 3,6 milhões de anos: quem encontrou estas famosas pegadas foi Mary Leakey em 1978. Numa entrada de um dos parques que visitamos (Lago Manyara), havia cópias destas pegadas.


Foram encontradas, também na Tanzânia, ferramentas de Homo habilis e ossos de Homo erectus, dois ancestrais mais próximos de nós na nossa história evolutiva. Caçadores-coletores se estabeleceram na região nos últimos dez mil anos. No meio da idade média, os mercadores árabes se fixaram no litoral do país: como tinham que negociar com todos os africanos de diferentes etnias e tribos, colaboraram para disseminar o swahili como a língua “universal” para comunicação em todo o leste da África. Os portugueses chegaram há 5 séculos e com eles veio a escravidão em escala mercantilista! Em 1884, a África foi retalhada entre as potências coloniais na conferência de Berlim e a Tanzânia ficou com a Alemanha , mas só até o final da primeira guerra mundial (1918): com a derrota alemã, a Tanzânia acabou indo para as mãos britânicas. No início da década de 1960, a Tanzânia conseguiu a sua independência: na verdade o país é a fusão de Tanganica (a região do interior do país) com Zanzibar que fica no litoral (e com praias disputadas, sobretudo pelos turistas europeus). O líder da independência e primeiro presidente do país foi Nyerere, um professor que estudou na Universidade de Edimburgh e que em seu governo de cunho socialista procurou dear muita ênfase para a educação. Sabendo que no ano da independência da Tanzânia, no país inteiro só existiam dois engenheiros e doze médicos, é possível imaginar o esforço que foi fazer o país funcionar e se estruturar após a independência! A economia do país (como em todo 3º mundo) acabou passando por uma grande crise nos anos 80, mas o país vem crescendo e se desenvolvendo neste nosso século XXI. E é um país quase que sem conflitos étnicos (apesar de contar com cerca de 120 grupos tribais), numa região em que estes conflitos já provocaram muitas mortes: é só lembrarmos da guerra civil entre tutsis e hutus em Ruanda, história esta que é muito bem relatada pelo filme “Hotel Ruanda”!

Em Arusha, compramos um tour de 4 dias que passaria por três dos principais parques da Tanzânia. No primeiro dia fomos para o Parque do Lago Manyara, um dos vários lagos característicos de toda esta região leste da África. O grande vale do Rift que corta a região de norte a sul é na verdade uma grande falha geológica “que está se abrindo” e vai por milhares de quilômetros desde o Mar Morto (no Oriente Médio) até Moçambique. Se calcula que em milhões de anos, no futuro, todo o leste da África vai se separar do resto do continente, mais ou menos como aconteceu com a Índia que há milhões de anos também se separou do continente africano e se “moveu” até colidir com a Ásia levantando desta forma a cordilheira do Himalaia! Ao redor do lago Manyara, na mata mais fechada que lá existe, vimos muito da fauna selvagem da região: muitos elefantes se alimentando continuamente, tropas de babuínos, macacos azuis, girafas, hipopótamos, búfalos, zebras, gnus, etc. Os parques da Tanzânia têm centros para visitação em suas entradas, com interessantes exposições sobre as características dos parques a serem visitados e o centro de visitantes do parque do Lago Manyara é realmente bem interessante!



De noite dormimos em uma tenda que foi armada no jardim de uma espécie de hostel de uma pequena cidade nas proximidades. Nossos vizinhos de tenda eram um casal de turistas búlgaros que foram bem simpáticos conosco.

No dia seguinte tomamos café de manhã e conhecemos dois amigos turcos que continuariam a viagem na perua juntamente com a gente a partir daí (o Huseyn e o Murat) que foram excelentes companheiros de safári. O nosso excelente guia chamava-se Moses.



Pegamos então a estrada para o famoso Parque do Serengeti (que tem uma fronteira contínua formando um corredor com a Reserva Nacional Masai Mara, que já tínhamos visitado anteriormente no Quênia). Pelo Serengeti em certas épocas do ano (mas não no mês de janeiro em que estávamos viajando) acontecem as famosas migrações de cerca de um milhão de gnus (chamados em inglês de “wildbeests”=bestas selvagens).



O parque do Serengeti é imenso e como ficaríamos em tendas em um acampamento que existe em Seronera bem no interior de toda a extensão do parque, após entrarmos no parque, começamos ali mesmo o nosso safári com o objetivo de só chegar no acampamento no finalzinho da tarde: fizemos o almoço ao lado da perua, no meio da savana (“safari lunch”). No Serengeti, para escolher os locais a serem visitados para observar a vida selvagem, tudo depende de em que mês do ano se está. Em janeiro, os primeiros muitos quilômetros do parque tinham uma vegetação (capim) bem baixa, com alguns poucos centímetros de altura: estavam cheias de gazelas, zebras, impalas e gnus. A vegetação mais baixa é paradoxalmente mais rica em cálcio (importante para os filhotes dos herbívoros) e, além disso, dificulta a aproximação de predadores como os leões que não tem como se camuflar/esconder, tornando esta região mais segura para estes herbívoros, na chamada corrida “armamentista” entre caça e caçador! A região seguinte (após passarmos pelo centro de visitação que não fica na entrada do parque, mas muitos quilômetros adentro, em uma elevação de um morro que se sobressai em toda aquela planície da savana) tinha vegetação (capim) mais alta (as vezes, com mais de meio metro) facilitando a vida dos predadores: por isto mesmo, por dezenas de quilômetros, avistamos poucos herbívoros nesta área. Mas conseguimos primeiro observar um caracal (um pequeno gato selvagem) tentando caçar um roedor.


Em seguida conseguimos observar um leopardo, dormindo no galho alto de uma árvore (só deu para ver quando chegamos bem embaixo da árvore; tente ver você se for capaz).


Logo depois, no alto dos galhos de outra árvore, avistamos dois jovens leões que nesta região adquiriram a habilidade de subir em árvores, talvez para olhar mais longe, talvez para roubar a comida dos leopardos que quando caçam as gazelas, as levam para o alto de árvores para comê-las mais tranquilamente, sem a “aporrinhação” de hienas e leões (agora, não é mais o caso, pelas habilidades destes leões escaladores de árvores!).



Vimos também em um lago uma quantidade imensa de hipopótamos e uma cena cruel. Um hipopótamo macho estava “brincando” com algo em sua boca que ele jogava violentamente para um lado e para o outro: ao nos aproximarmos, vimos que era um filhotinho de hipopótamo que ele tinha matado (segundo o guia relatou, os machos matam os filhotes de suas novas parceiras).



Ao anoitecer fomos para o acampamento público, jantamos e fomos dormir na nossa tenda sob as estrelas do Serengeti!

Uns amigos brasileiros, que também estavam acampados lá, relataram no dia seguinte, que de noite escutaram animais caminhando e fazendo barulho ao redor das tendas (Hienas? Búfalos? Javalis?), mas nós dormimos pesado e não escutamos nada). Talvez fosse apenas o ronco do sono pesado de um turista que tenha jantado demais... 

No dia seguinte, ficamos o dia todo fazendo safári pelo Serengeti, observando elefantes, búfalos e girafas. Mas foi numa região mais ao sul, perto do Lago Nduta, que avistamos no meio da tarde um grupo de leões (um macho com um harém de algumas fêmeas) descansando e se protegendo do sol, na sombra de uma vegetação típica da região.





Mas o nosso objetivo era conseguir observar o guepardo, que aqui é conhecido como chita (cheetah, em inglês), um grande felino (mais magro e elegante que o leopardo) que é o animal mais rápido do mundo: consegue atingir mais de 100 km/h (por poucos segundos, é bom dizer) quando está caçando uma gazela. No finalzinho da tarde, quando estávamos quase desistindo, encontramos três guepardos machos (possivelmente irmãos) relaxando na sombra de uma acácia, no meio da savana africana. Fomos a primeira perua a chegar e por alguns minutos, antes que chegassem um monte de outras peruas e vans, pudemos admirar sozinhos a incrível beleza e elegância destes belos animais que estão ameaçados de extinção e que estavam deitados tranquilamente a poucos metros de nós. Uma cena que ficará gravada em nossa memória, para sempre.



Depois ficamos sabendo que infelizmente na África há reservas de caça (em alguns países como o Quênia elas são ilegais, mas pelo que me disseram, há países em elas são legais) em que turistas estrangeiros muito ricos (sobretudo norte-americanos e russos, mas há também cada vez mais brasileiros pelo que relataram), pagam cerca de 20 mil dólares (40 mil reais) pelo “direito” de caçar e matar leões, guepardos e elefantes (e há até quem argumente, que isto seria bom para evitar a extinção deles, usando-se parte dos recursos financeiros obtidos para isto). Matar animais selvagens para evitar a sua extinção é um pouco forçar demais a barra, vocês não acham?

Após sairmos do parque do Serengeti, a tarde, fomos para o parque da Cratera de Ngorongoro, que na verdade é uma “caldeira”, pois é uma região aproximadamente circular (com cerca de 20 km de diâmetro) que “afundou” uns 500 metros em relação às redondezas... Dormimos lá em tenda, em um outro acampamento público dentro da cratera. Aliás, o inconveniente destes acampamentos públicos (sobretudo em comparação com os outros acampamentos privados que ficamos), é a péssima condição de limpeza de seus banheiros: mas sobrevivemos!




Durante o dia seguinte fizemos um safári por toda a manhã pela cratera, avistando hienas, famílias de javalis, elefantes solitários, rinocerontes, zebras, gnus, e um leão dormindo com a barriga para cima!

  
E belos pássaros, como o flamingo e o grow coroado. Almoçamos na cratera e a tarde voltamos para a cidade de Arusha, onde terminou o nosso safari. Ficamos hospedados no Arusha Backpackers, um hostel agradável, limpo, com água quente o dia todo e um belo restaurante/bar no último andar.

No dia seguinte, pegamos um shuttle (micro-ônibus) e retornamos para Nairóbi, capital do Quênia, onde ficamos mais alguns dias. E nestes dias fizemos passeios adoráveis pela cidade e seus arredores. Em primeiro lugar passamos várias horas no Museu Nacional, interessantíssimo e o maior do país.




Dentro do museu existiam diversas exposições interessantíssimas e passamos várias horas por lá, inclusive almoçando no restaurante do museu.



Fomos também visitar os Arquivos Nacionais com obras de arte de toda a África. Ali aprendemos um pouco da história da queniana Wangari Maathai, que foi uma pesquisadora e ambientalista que recebeu o Nobel da Paz em 2004 (ela foi a primeira mulher africana a ganhar o Nobel) pelo seu trabalho em plantar os chamados cinturões verdes (Green belts) de árvores. Conhecemos (por fora, sem entrar) a Mesquita Jamia e o Parlamento. Visitamos os Jardins do Memorial da Embaixada Americana (onde em 1998, a explosão de uma bomba poderosíssima matou cerca de duas centenas de quenianos em um atentado terrorista atribuído ao grupo fundamentalista Al-Qaeda). Fomos passar um dia no Parque Nacional de Nairóbi que fica nas redondezas da cidade (dá para ver os seus prédios do parque) e tem toda a fauna selvagem dos outros parques do país, inclusive leões (mas que não teve tanta graça, pois já tínhamos visitados os principais parques do Quênia e da Tanzânia). Almoçamos no Carnivore, um restaurante turístico que é uma espécie de churrascaria de rodízio da região, que além das carnes normais serve também carne de Crocodilo e de Avestruz, ambos criados em cativeiro (a de avestruz é mais saborosa). As carnes de caça (como de zebra, por exemplo), foram proibidas de serem comercializadas no Quênia a partir de 2004!

Há um caminhão-ônibus adaptado para longas viagens que faz uma famosa viagem turística de cerca de dois meses entre o Cairo (no Egito, no norte da África) e a Cidade do Cabo (no sul da África do Sul). Bem no meio do caminho, há uma parada “obrigatória” para almoçar no Carnivore de Nairóbi (há um outro restaurante da rede em Johanesburgo na África do Sul). Mas na nossa humilde opinião, as churrascarias brasileiras “dão de dez” no Carnivore: elas são muito, muito melhores! Visitamos também a bela igreja anglicana, o Parque Uhuru e o Parque Central (que ficam no centro da cidade um ao lado do outro e são separados por uma avenida, formando uma espécie de Ibirapuera deles).
Muito legal mesmo foi ir ao Refúgio de Elefantinhos “David Sheldrick”: lá há um berçário com cerca de 15 elefantinhos que são mantidos vivos e alimentados com os recursos das entradas que pagamos para observá-los.



Como os elefantes são animais sociais, os elefantinhos não podem dormir sozinhos e toda noite um dos funcionários da instituição dorme em uma cama ao lado de cada elefantinho (isto ocorre em forma de rodízio, para que os elefantinhos não se apeguem muito a um funcionário específico). Entramos até em um dos “aposentos” onde dorme um elefantinho com a cama do funcionário ao lado.


As mães destes elefantinhos foram mortas por caçadores de marfim e, antes que eles virassem comida de predadores, são resgatados pela equipe desta instituição. É um belíssimo trabalho. Mas é uma pena que ainda existam turistas pouco conscientes que comprem enfeites de marfim e mantenham com o seu dinheiro e ostentação todo o comércio que financia a matança de elefantes. 

Fica aqui o nosso apelo: não compre objetos de marfim! Numa área do parque nacional de Nairóbi, pudemos até observar os restos carbonizados de marfim de uma iniciativa política de impacto que foi feita pelo presidente do Quênia: uma fogueira que destruiu imensas quantidades de marfim que foram apreendidos pela polícia do Quênia. No Quênia a caça ao elefante é ilegal e o comércio de Marfim foi banido mundialmente em 1989. A observação dos elefantinhos pelos turistas ocorre todos os dias entre 11 e 12 horas da manhã. Foi umas das experiências mais incríveis, poder observar os elefantinhos chegando em fila indiana, brincando displicentemente uns com os outros, segurando com as trombas as próprias mamadeiras gigantescas, mamando todo o leite “no gargalo” e depois da refeição, brincar com uma bola de futebol e se esbaldar/refrescar num poço de lama e água que havia ali por perto!

Outra atividade muito legal é a visita ao Centro de Girafas, também nos subúrbios de Nairóbi. Há um quiosque ao qual se sobe por uma escada em que fica no nível da cabeça das girafas. Aí você coloca um pedacinho de ração de girafa preso nos seus lábios, se aproxima da cabeça de uma girafa que está nas proximidades e ela estica a língua comprida e gosmenta da sua boca e gentilmente tira a ração dos seus lábios. Fantástico! Fiz isto várias vezes! Foi paixão a primeira vista! Como diz a propaganda: levar um beijo de língua de uma sedutora, esbelta e elegantíssima girafa – NÃO TEM PREÇO! Quem não acredita veja a foto comprometedora de um dos vários beijos!


Na periferia de Nairóbi, fomos também ao centro de cerâmica e artesanato “Kazuri” (que vende coisas muito bonitas e bem trabalhadas) e ao “Bomas do Kenya” onde nas redondezas há vilas construídas mostrando como vivem algumas das etnias do país. Lá também, num espaço coberto bem amplo, assistimos a um interessante espetáculo (mas meio para turistão) com danças de uma dezena de diferentes tribos e etnias do país, inclusive as danças Masai, na qual cada um dos Masai (bem magrinhos e altos) procura pular mais alto para ver mais longe que o inimigo: uma sublimação da guerra.


Entre os Masai há ainda até hoje a realização de rituais de passagem para os meninos e meninas, com a circuncisão em ambos os casos (e que no caso feminino, é claramente uma mutilação). Há todo um importante trabalho sendo realizado por autoridades e ONG´s tentando manter o ritual de passagem (com os seus ritos e tradições), mas sem a mutilação das meninas.

Na última noite fomos ao cinema ver o filme “Compramos um Zoológico” (“We bought a Zoo”), com o Matt Damon e que conta a história real de um norte-americano viúvo e com dois filhos, que numa cidadezinha dos EUA comprou um zoológico que tinha meio que falido e tenta recuperá-lo, com a ajuda da pequena equipe de funcionários da instituição, que conta obviamente, com a personagem da bela atriz Scarlett Johansson. Um belo filme para quem gosta de animais em geral.

Na nossa estadia no Quênia, aprendemos um pouco sobre a guerrilha Mau Mau que lutou contra os britânicos e conseguiu finalmente nos anos 60 a independência do Quênia. Foi muito interessante no avião podermos ver o filme queniano “The first grader” (algo em português como “O aluno do primeiro ano do ensino fundamental”): acho que ainda não foi lançado no Brasil. Conta a história real de um senhor queniano que na sua juventude foi um guerrilheiro do movimento Mau Mau que teve a sua esposa e filhos assassinados pelas forças militares britânicas e que passou vários anos preso nos anos 50. Quase meio século depois da independência, com 84 anos, este senhor resolve ir à escola para aprender a ler e escrever. O filme conta a experiência deste senhor na escola rural aprendendo junto com as crianças. Quando (e se) estreiar no Brasil, assistam, pois vale a pena.

Voltamos de avião de Nairóbi para Johanesburgo na África do Sul. Nos hospedamos, a noite, no Brown Sugar Backpackers, um hostel muito bem estruturado e que nos anos 70 foi a mansão de um gangster/traficante (de origem portuguesa) de heroína e que foi mortos a tiros no centro de Johanesburgo. No dia seguinte, pegamos de manhã um ônibus (da empresa Greyhound) para a cidade de Maputo, capital de Moçambique, onde chegamos no final da tarde. Moçambique é um país bem mais pobre que Quênia e Tanzânia que por sua vez são bem mais pobres que a África do Sul que, finalmente, tem uma renda per capita parecida com a brasileira! Como tínhamos somente 4 dias, ficamos só em Maputo. Moçambique é um país bastante extenso e tem várias regiões belíssimas para serem visitadas: as suas praias recebem cada vez mais turistas estrangeiros, principalmente sul-africanos e europeus.

Boa parte do território de Moçambique é composto de savanas. Os portugueses chegaram aqui (Vasco da Gama) em 1498 a caminho da Índia. O comércio ditou a colonização portuguesa: primeiro de marfim, depois de ouro e finalmente de seres humanos (escravos)! Moçambique (junto com Angola) foi um dos últimos países africanos a conseguir a independência, o que só ocorreu com o fim do salazarismo (e do fascismo), em Portugal, nos anos 70 e a sua democratização. Finalmente em 1975, Moçambique declarou-se independente e Samora Machel, o líder do movimento guerrilheiro Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) que lutou contra os portugueses tornou-se o primeiro presidente de Moçambique, estabelecendo uma economia de bases socialistas, como foi o caso de outros países africanos (que na luta pela independência tiveram o apoio do antigo bloco socialista/União Soviética/Cuba). Moçambique entrou então no rol dos países que foram campo de batalha da guerra fria (que como em muitos outros países, como foi o caso do Vietnã, não foi nada fria, mas bem quente, cruel e mortal). Moçambique começou a receber e dar asilo a lideranças negras sul-africanas que lutavam no país vizinho contra o regime de segregação racial do apartheid. Os Estados Unidos e a África do Sul passaram então a retaliar, financiando e dando um intenso suporte a mercenários da Renamo (Resistência Nacional de Moçambique) para sabotar toda a infra-estrutura de Moçambique. Como a Renamo não tinha o desejo real de governar, mas sim de paralisar o país, suas ações militares destruíam estradas, pontes, ferrovias, escolas e hospitais, e atrocidades terríveis eram cometidas em vilarejos. Em 1986, o presidente Samora Machel morreu num acidente de avião ainda não suficientemente bem esclarecido. Esta “guerra civil” (na verdade ela foi uma guerra financiada externamente, sobretudo pelos EUA, contra este jovem e pobre país africano) de 16 anos acabou nos anos 90, já em um outro contexto mundial (tanto com a queda do muro de Berlim e a derrocada da União Soviética, quanto com o fim do apartheid na África do Sul). Uma das conseqüências de toda esta guerra suja contra Moçambique foi o estabelecimento de muitas minas explosivas espalhadas por todo o país por mercenários, como tática de sabotagem e de destruição de vidas para baixar a moral da população civil e destruir o apoio ao governo: todo um trabalho imenso tem sido feito nas duas últimas décadas para destruir e acabar com estas minas, mas nas áreas mais remotas do país, elas ainda representam um risco. Em 1994, ocorreram as primeiras eleições democráticas do país, com a vitória da Frelimo. Moçambique é hoje uma economia de mercado, mas ficaram ainda resquícios da época comunista/socialista. O hostel em que ficamos hospedados, o Fatima´s Backpackers, por exemplo, fica na Avenida Mao Tsé Tung, próximo da esquina com a Avenida Vladimir Lenine! A escolha deste hostel (como dos outros em que ficamos hospedados) ocorreu seguindo a dica do nosso guia de viagem da série “Lonely Planet” (www.lonelyplanet.com), o guia dos viajantes independentes (uma propaganda gratuita... mas que pode servir de dica para “viajantes de primeira viagem”)!



Numa das noites em Maputo fomos no Centro Cultura Franco-Moçambicano ver a abertura do 5º Festival de Música Marrabenta (a típica música moçambicana). Foram vários músicos que se apresentaram e um deles, um senhor bem idoso, entrou no palco com o seu andador, e depois cantou (e até meio que dançou com as bailarinas) com uma energia incrível algumas músicas moçambicanas. Ficamos das 8 até depois das 11 da noite: foi uma experiência musical contagiante!




Na saída das aulas em Maputo, a gente acabou conhecendo várias crianças moçambicanas que se divertiram posando em fotos para nós.


Em Maputo visitamos vários museus interessantes (em muitos deles, fomos muito bem atendidos e guiados por jovens estagiários que estão fazendo curso técnico de hotelaria e turismo em uma escola profissionalizante da cidade): o Museu Nacional de Arte, o Museu de História Natural, o Museu de Geologia, o forte de Maputo, o Museu Nacional da Moeda, a Casa de Ferro, o belo prédio da prefeitura, o jardim botânico, a praça da independência (com uma grande estátua do Samora Machel), o Centro Cultural Português/Instituto Camões (que nos foi inteiramente apresentado – incluindo as diversas obras de arte nele existentes e a sua biblioteca – por uma simpática e muito profissional funcionária da Instituição), a Catedral da Nossa Senhora da Conceição e o bem conservado Jardim dos Professores.




A Estação de Trem de Maputo é muito bonita e foi considerada uma das 10 mais belas estações de trem do mundo pela revista Newsweek.



Visitamos também o luxuoso hotel Polana (que fica de frente para o Oceano Índico).



E num dos dias almoçamos um delicioso filé de peixe no restaurante Costa do Sol que também fica de frente para o mar, mais ao norte da cidade. O Centro de Estudos Brasileiros estava fechado devido às férias e, portanto, infelizmente não pudemos visitar.
As 16 tribos/etnias de Moçambique vivem relativamente em paz e o idioma nacional é o português (mas muitos deles falam também no seu dia-a-dia a língua da sua etnia). Há um grande contingente de católicos no país e também de muçulmanos, bem como de religiões tradicionais baseadas em crenças animistas. Mas observamos a penetração da brasileira Igreja Universal do Reino de Deus: logo na chegada da viagem, quando entra em Maputo, o ônibus passa em frente a um templo imenso e suntuoso da Igreja Universal. Esta “penetração” da Igreja Universal em Moçambique está relacionada a uma série de problemas, sobretudo pela quantidade de dinheiro envolvida e, como ocorre em outros países, pelo abuso da ingenuidade/ignorância de pessoas mais pobres e desesperadas que entregam, muitas vezes, boa parte do que têm para a Igreja em busca de uma recompensa vinda de Deus... Para quem se interessar, a revista Carta Capital publicou recentemente o excelente artigo “A Igreja Universal do Reino de Deus em Moçambique” sobre este assunto (que está disponível no site do jornalista Luis Nassif:http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-igreja-universal-do-reino-de-deus-em-mocambique). 
Nesta viagem a Moçambique, somos muitíssimo gratos pelos momentos agradáveis que passamos em Maputo em companhia de nossos amigos Terezinha (da importante ong WLSA / Woman and Law in Southern Africa / “Mulher e Lei no Sul da África” - www.wlsa.org.mzque defende os direitos das mulheres em Moçambique) e Pedro: pudemos conhecer bastante da cultura (e da culinária) moçambicana com eles.
Moçambique é um dos países mais pobres do mundo e a primeira coisa que nota-se com esta pobreza é a sujeira do país: muito há para ser feito quanto à disposição dos resíduos neste país. Mas há também muita coisa bela para ser conhecida em Moçambique.
Voltamos também de ônibus para Johanesburgo, a maior cidade da África do Sul. Como tínhamos ainda um dia para passear, resolvemos alugar um taxi e ir conhecer o Museu Maropeng – O Berço da Humanidade (Cradle of Humankind: www.maropeng.co.za), uma interessantíssimo museu de história natural que fica distante cerca de 50 km da cidade, numa região onde foram encontrados muitos fósseis e ferramentas de nossos ancestrais (Australopitecos, Homo habilis e Homo erectus) que viveram nesta região da África do Sul, aproximadamente a partir dos últimos 4 milhões de anos: o museu fica sob uma espécie de “túmulo”/morro gramado e é muito extenso.



O Museu Maropeng conta a história do universo desde o Big Bang e fala um pouco da história geológica da Terra, mas o seu foco mesmo está na história evolutiva do ser humano. Tem uma série de exibições interativas e inclusive um passeio de barco por baixo da terra, de volta na história das diversas eras pelas quais passou o nosso planeta. IMPERDÍVEL.



Para completar, nas proximidades de Maropeng, visitamos pela tarde as cavernas de Sterkfontein, um dos mais importantes sítios arqueológicos do mundo, onde foi encontrado um esqueleto quase completo de um “Australopitecus” com mais de 3 milhões de anos de idade (o chamado “Little foot” ou “Pequeno pé”). Tanto na caverna, como em Maropeng, havia muitas famílias de sul-africanos trazendo seus filhos para aprender um pouco de ciência e de história.

Na última década, o Brasil tem intensificado o comércio e os intercâmbios políticos e educacionais com a África. Percebemos, nesta viagem, em todos os países, uma simpatia bastante grande pelo Brasil e notamos que o nosso país tem muito a contribuir para ajudar os países africanos a saírem do sub-desenvolvimento, com ganhos para os dois lados (o incremento do comércio com a África tem ajudado muito no superávit da balança comercial brasileira). Esperamos que o nosso governo atual continue com esta linha multilateral de intensificar as relações com diferentes regiões do nosso planeta: o mundo, como ficou claro a partir da crise econômica mundial de 2008, vai muito além da Europa e dos Estados Unidos!

Bom pessoal, é isso aí! Viajar pela África não é fácil, mas VALE MUITO A PENA!








NAMÍBIA / ÁFRICA DO SUL / SUAZILÂNDIA



Final de dezembro de 2004: resolvemos fazer a nossa primeira viagem a África, visitando a Namíbia, a África do Sul e a Suazilândia. A viagem durou cerca de um mês, até quase o final de janeiro de 2005. Como éramos marinheiros de primeira viagem, fomos com muitos receios (talvez exagerados), sobretudo com respeito à malária.

Logo de início, depois de passarmos rapidamente por Johanesburgo, voamos para a Namíbia, um simpático país com no sudoeste da África e que tem apenas cerca de 2 milhões de habitantes. É um dos países africanos com menor densidade populacional, até porque conta com grandes extensões de desertos, como é o caso de Sossusvlei que com suas belas dunas é uma das principais atrações turísticas do país.




Para visitar o país com mais comodidade compramos um “tour” que visitou seus principais parques, onde ficamos acampados em tendas/cabanas rústicas.



O visual do Parque Waterberg Plateau, que nós também visitamos, era incrível, sobretudo no final da tarde.




Para quem gosta de biologia vale conhecer a floresta de árvores petrificadas: alguns dos troncos fossilizados no chão tinham dezenas de metros de comprimento e mais de 200 milhões de anos de idade!



Outra curiosidade são os pássaros sociais com seus ninhos imensos nas árvores.



Na Namíbia, encontramos também várias localidades / parques com inscrições rupestres muito antigas feitas em pedras e em cavernas. Quase sempre a motivação para os desenhos é a vida animal selvagem da região.



No litoral, valeu a pena conhecer também a reserva de leões marinhos de Cape Cross, com milhares destes mamíferos marinhos. A Namíbia está no litoral africano do Oceano Atlântico, na altura do Trópico de Capricórnio, de modo que se sairmos nadando pelas praias paulistas sempre em frente, uma hora, se tivermos “fôlego” suficiente, chegamos em alguma praia da Namíbia (brincadeirinha)...



Mas o mais legal na Namíbia foi conhecer o Parque Nacional Etosha, a sua maior atração em termos de vida selvagem: é uma imensa planície muito seca e com diversos “water holes” (poças de água) ideais para ficar observando todo tipo de vida selvagem que vem para beber a água tão necessária para a vida. Quando as leoas e os leões chegam para beber água, “todo mundo” cai fora. Mas a verdade é que quando os elefantes chegam para beber água, os leões é que caem fora. Como nos disseram, o Leão pode ser o rei, mas o primeiro-ministro (quem manda de verdade) é o elefante.



Um momento único na viagem, ocorreu quando observamos um grupo de leoas tentando caçar zebras. Elas se aproximaram sorrateiramente, se confundindo com a vegetação até que uma zebra deu o alarme (uma espécie de relincho característico) e todas as zebras saíram correndo em disparada.



Desta vez as leoas só comeram poeira!



O camping Okakuejo em que acampamos dentro do parque Etosha, tinha uma deliciosa piscina para nos refrescarmos daquele calor infernal.



Além disso, este camping fica bem ao lado de uma imensa poça de água separado desta por muretas. É só sentar em algumas das cadeiras disponíveis e ficar observando toda a fauna que vem beber água nesta poça (inclusive à noite, pois há imensos refletores para observar os animais que vem beber água de noite).



A partir da partilha da África feita em 1884 pelas potências coloniais européias, a Namíbia ficou sob posse da Alemanha por algumas décadas e esta influência germânica pode ser observada até hoje na arquitetura de Windhoek, sua capital.

A Namíbia foi ocupada também pelas forças militares sul-africanas durante o regime do Apartheid (e a partir do território da Namíbia eram realizados ataques contra Angola, após a independência desta colônia portuguesa, independência esta que contou com o apoio de Cuba e da União Soviética), no contexto da Guerra Fria. Só com o fim do regime de segregação racial na África do Sul, no anos 90, que a Namíbia conheceu uma real liberdade e auto-determinação. A Namíbia e a África do Sul são os países com melhor qualidade de vida da África e têm aproximadamente a mesma renda per capita do Brasil.

A virada do ano de 2004 para 2005, passamos na cidade litorânea de Swakopmund. Foi aí que no primeiro dia do ano deu até para nadar com golfinhos que apareceram na baía que fica em frente à praia da cidade.



Retornamos então de avião para Johanesburgo. Tiramos um dia para visitar a cidade de Soweto na periferia de Johanesburgo, cidade esta que foi criada pelo sistema de segregação racial para manter os negros longe dos bairros da classe média branca de Johanesburgo. E foi justamente de Soweto que começaram os grandes levantes contra o sistema do Apartheid. Em Soweto, fomos conhecer a rua onde viveram dois homens que receberam o Prêmio Nobel da Paz: o bispo Tutu e o Nelson Mandela (a casa de Mandela é hoje um museu interessante para ser visitado), duas personalidades importantes na história da luta contra o Apartheid e o racismo no país.



Mais ao norte de Johanesburgo (50 km) fica a cidade de Pretória, a capital do país que conta com belos prédios (sedes de órgãos governamentais).



Para conhecer o interior/litoral do país compramos um tour indo de Johanesburgo que é a maior cidade da África do Sul (e que fica no norte) até a cidade do Cabo (Cape Town) que fica no extremo sul do continente africano. A viagem foi realizada numa espécie de ônibus/caminhão da “African Routes” adaptado para toda a viagem e, especialmente, para fazer safáris de observação de animais selvagens dentro dos parques. De noite ou acampávamos nos parques ou ficávamos hospedados em hostels nas cidades.



Um dos parques que visitamos foi o do Canyon Blyde River que tinha vistas panorâmicas fantásticas.



Outro belo parque (cheio de montanhas) foi o Drakensberg.



E é claro que durante este tour, visitamos o Parque Kruger, o mais famoso parque sul-africano para observar a vida selvagem. Como a vegetação é mais densa do que a do Parque Etosha (na Namíbia), foi um pouco mais difícil encontrar os animais selvagens (tínhamos que ter mais paciência). Mas vimos muitos animais, inclusive leopardos (difíceis de se ver), leões e hienas.



Durante a nossa viagem entramos na Suazilândia, um pequeno país (na verdade é um reino) encravado dentro da África do Sul. Lá conhecemos uma vila típica das tribos suazis e de noite vimos um espetáculo de dança típica do país.



No meio do “tour”, passamos um dia pela cidade de Durban, a terceira maior cidade do país. Durban fica no litoral do Oceano Índico e apresenta belos prédios e museus que valem a visita (como é o caso do Museu de Ciência Natural).



Foi em Durban também que encontramos um tabuleiro gigante onde jogamos um pouco de xadrez para espraiar um pouco e também dar uma treinada na mente!



Visitamos o Parque dos Elefantes de Addo para observar estes adoráveis paquidermes e acampamos com as nossas tendas bem à beira do oceano Índico! O vento a noite foi “brabo”, mas deu para a gente dormir!



Por ali mesmo conhecemos o Parque Tistsikamma com uma ponte suspensa bem estreitinha...



Também tivemos que nadar no oceano Índico (até para compará-lo com o nosso velho companheiro oceano Atlântico), o que foi possível na Baía Plettenberg.



Visitamos também uma fazenda de avestruzes onde a Divina que era mais levezinha até cavalgou em um avestruz!



Os ovos de avestruz são tão duros e resistentes que é possível até pisar neles que eles não quebram.



Por outro lado, os avestruzes são bem comilões e quando fomos dar uma comidinha para eles, apareceram vários pescoçudos para filar a bóia!



A caverna Cango apresentava em seu interior vários estalactites e estalagmites com formas belas e únicas: valeu a nossa visita!



Finalmente, chegamos à cidade do Cabo que é uma das mais belas cidades do mundo e como contraponto ao seu litoral tem a “Table Mountain”.



É possível subir na Table Mountain e, de lá, ter uma bela visão panorâmica de toda a cidade.



Da cidade do Cabo é fácil ir até o famoso Cabo da Boa Esperança, que os nossos amigos portugueses tiveram que chegar para contornar toda a África e chegar ao oriente, às Índias, à região das especiarias!



Foi fascinante conhecer esta pequena porção da África: uma experiência única! Para quem gosta de natureza e de aventura, é diversão certa!






EGITO



Em janeiro de 2001, após visitarmos minha irmã, a Renata, em Roma, resolvemos partir para conhecer o Egito, sonho de consumo de todos os viajantes que amam a história, como é o nosso caso. Pegamos um vôo que fazia conexão em Atenas e chegamos na cidade do Cairo (capital do Egito) bem de madrugada. Logo na manhã seguinte nós já estávamos na rua procurando como chegar nas famosas pirâmides. Após algumas desventuras encontramos as 3 famosas pirâmides do planalto de Gizé (na periferia da cidade do Cairo): a sensação foi indescritível!



Estávamos voltando quase 5 mil anos no passado e admirando esta magnífica obra de engenharia feita pelos antigos egípcios. Passeamos perto da esfinge e ficamos saracoteando o dia todo por lá, admirando as suas construções de múltiplos ângulos e pontos de vista. Foi um grande dia!




No final da tarde ainda deu para ter um saborzinho das pirâmides ao por do sol e de noite assistimos ao show de luz e som que existe contando a história das pirâmides.



Numa das kombis que pegamos para chegar até as pirâmides conhecemos um casal de suíços que gostavam tanto de viajar que já estavam viajando SEM PARAR fazia mais de 20 anos! Inacreditável. Quando seus filhos ficaram maiores de idade, eles venderam a casa na Suíça, aplicaram o dinheiro e começaram a viajar pelo mundo parando alguns meses em algum lugar que mais fosse interessante para eles no momento e depois seguindo para outros lugares. Isto por MAIS DE 20 ANOS!!!



Em outras regiões no meio do deserto, nas proximidades do Cairo (que é uma cidade gigantesca) há outras pirâmides importantes. Uma delas é a pirâmide de Saqara que apresenta degraus e é também grandiosa.



Uma outra pirâmide interessante é a pirâmide “quedrada” de Bent. No começo (na sua base) ela tem 55º de inclinação, mas no seu final (próximo ao topo), a inclinação diminui repentinamente para 43º. Possivelmente o engenheiro percebeu que com a inclinação da base indo até o topo, a pirâmide não iria agüentar com o próprio peso e no meio da execução decidiu mudar o projeto! Deu certo, pois ela está de pé até hoje. Moral da história: se perceber que algo está errado, na medida do possível MUDE, mesmo “com o carro andando”.



O Egito é uma dádiva do Nilo! Todo mundo já ouviu esta história. Isto vale particularmente para a cidade do Cairo que está situada às margens do Rio Nilo e precisa das suas águas para a sobrevivência de seus habitantes.



Atravessar as pontes que cruzam o Rio Nilo permite ter uma idéia da sua importância para a história do país. Aliás, ao passearmos pela cidade notamos um hábito diferenciado dos egípcios (e depois ficamos sabendo que ocorre também em outros países africanos): os homens (sobretudo os jovens/rapazes) andam de mãos dadas com seus amigos. É claro, a primeira coisa que vem a mente é uma referência a questão da sexualidade, mas percebemos que não havia nenhuma relação: amigos andam de mãos dadas, assim como, no ocidente, amigas muitas vezes andam de mãos dadas. Numa das pontes sobre o Nilo vimos 3 rapazes felizes e de mãos dadas todos os TRÊS, batendo o maior papo, passeando e caminhando naturalmente pela cidade! Uma vez, numa palestra, o professor Paulo Freire relatou que no seu exílio, quando foi trabalhar num país africano, o reitor da universidade que o estava recebendo o pegou pela mão e “de mãos dadas” o levou por todo o campus para mostrar os seus vários prédios. Muito interessante a diversidade cultural humana, não é mesmo? Para manter a tradição, passeamos então nós dois, marido e mulher, de mãos dadas pela cidade do Cairo!!!



O museu do Cairo (ao lado do Rio Nilo) é o grande museu com as riquezas arqueológicas do país e a sua visita vale toda uma tarde, pelo menos!



O Egito é um país de maioria muçulmana (mas bastante laico e liberal, sem muitas mulheres andando de burca) e ao visitarmos uma das suas belas mesquitas (sem sapatos, obviamente), tiramos uma foto com uma excursão de egípcios que estavam visitando o local (junto com alguns turistas europeus).



Uma das principais atrações do Cairo é a Citadela toda murada e que foi fundada durante a idade média pelo famoso general muçulmano Saladino.



A vista do Cairo, a partir da Citadela, é magnífica.

A Torre do Cairo também é uma construção importante desta cidade.



Pegamos então um trem margeando o Rio Nilo e fomos até a cidade de Luxor situada no centro do país (mais ao sul em relação ao Cairo, que está mais ao norte). Luxor cresceu sobre as ruínas da antiga cidade de Tebas e hoje está situada a 670 km ao sul do Cairo. A grande atração da cidade são os fenomenais templos de Karnak e Luxor (na verdade um grande complexo de construções e de templos).



As colunas dos seus templos são de tirar o fôlego e poder passear por estas ruínas por uma tarde toda foi uma das melhores experiências que já tivemos em todas as nossas viagens. Uma das apresentações comuns que aparece no início de alguns filmes no cinema é exatamente uma passagem da câmera entre as colunas do templo de Karnak (prestem atenção quando forem ao cinema para terem uma idéia da grandiosidade destes templos).




Um das mais belas construções de todo o complexo é, com certeza, o templo de Ísis.




Nas proximidades da cidade, do outro lado do rio, está o Vale dos Reis, na verdade uma necrópole cheia de túmulos de faraós egípcios.



Em algumas das tumbas de faraós é possível entrar para conhecer o seu interior e os desenhos pintados em suas paredes: a tumba mais famosa é a do faraó Tutankhamon.



Na entrada do Vale, há esculturas muito antigas e ainda razoavelmente bem preservadas.



Finalmente, pegamos um avião e fomos ao extremo sul do país na Núbia, na região mais próxima com a fronteira com o Sudão. Ali, no Rio Nilo foi, construída a maior hidroelétrica do Egito, na represa de Assuã. Quando ela foi construída nos anos 60, houve todo um imenso esforço para mudar de local (para não ser alagado) TODO um complexo de estátuas gigantescas esculpidas em dois templos na rocha de uma montanha! Trata-se de Abu Simbel, uma das maiores belezas arqueológicas do mundo.



Portanto, na verdade eles mudaram a parte toda da montanha com os templos e as estátuas gigantescas para uma outra montanha artificial numa área que não seria alagada pela represa. Um feito incrível e  realmente necessário para preservar esta riqueza arqueológica e histórica do país.




O Egito é um país magnífico: as pirâmides do Cairo, os templos de Luxor e de Abu Simbel foram algumas das maiores belezas que nossos olhos já puderam desfrutar. Para quem gosta de história e de arqueologia é um dos melhores destinos possíveis!




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